“em Abril,
águas mil”
(provérbio popular)
“as portas
que Abril abriu”
(título de Livro de Poesia de Ary dos Santos)
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aqui, onde nasce este poema
morre um pouco de mim quando sem ti.
morre o choro por lembranças inúteis,
o álbum dos gestos desabitados,
a moldura embranquecida pela neve
no calendário de deveres idiotas e
dos desgastes e embustes boçais.
morre a espinha atravessada na voz
a enganar tons e juras semi-tonados.
morre a calma receosa do tempo
trança nos deveres infernais tecida.
morre o ranço o ciúme o fel o medo
e outros medos mais os roucos conteúdos
do estado miserável deste povo
a que só um poeta chamaria de novo.
morre um pouco de mim sem ti neste poiso,
neste recanto onde ressuscita o poema.
que morra a face visível da ignonímia
a vaga do sacrifício a maré da espera
a calma inexplicável pelo futuro
a paciência inadmissível pelo bem
a serenidade temente a deuses fracos
e o rasto insuportável da vileza.
que morra o tempo do tédio, o envenenado
espaço vazio de afagos e beijos doces.
que morram os brancos lençóis manchados
de lágrimas ao soldado desconhecido.
que morra a dor, duradoura mas finita,
e junto com ela leve o desespero.
neste recanto, neste poiso do encantamento
onde nasce o poema morra, por fim,
esse pouco do mim sem ti para que nasça
também o que, de ti, meu amor de sempre,
o quanto de ti que, agora, se vai abrindo em mim.
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maria
toscano.
Coimbra,
Casa Verde, 19 Abril / 2012.
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