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quinta-feira, abril 19, 2012

“aqui, onde nasce este poema...” — por Abril


“em Abril, águas mil” 
(provérbio popular)

“as portas que Abril abriu”

(título de Livro de Poesia de Ary dos Santos)

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aqui, onde nasce este poema
morre um pouco de mim quando sem ti.
morre o choro por lembranças inúteis,
o álbum dos gestos desabitados,
a moldura embranquecida pela neve
no calendário de deveres idiotas e
dos desgastes e embustes boçais.
morre a espinha atravessada na voz
a enganar tons e juras semi-tonados.
morre a calma receosa do tempo
trança nos deveres infernais tecida.
morre o ranço o ciúme o fel o medo
e outros medos mais os roucos conteúdos
do estado miserável deste povo
a que só um poeta chamaria de novo.
morre um pouco de mim sem ti neste poiso,
neste recanto onde ressuscita o poema.
que morra a face visível da ignonímia
a vaga do sacrifício a maré da espera
a calma inexplicável pelo futuro
a paciência inadmissível pelo bem
a serenidade temente a deuses fracos
e o rasto insuportável da vileza.
que morra o tempo do tédio, o envenenado
espaço vazio de afagos e beijos doces.
que morram os brancos lençóis manchados
de lágrimas ao soldado desconhecido.
que morra a dor, duradoura mas finita,
e junto com ela leve o desespero.
neste recanto, neste poiso do encantamento
onde nasce o poema morra, por fim,
esse pouco do mim sem ti para que nasça
também o que, de ti, meu amor de sempre,
o quanto de ti que, agora, se vai abrindo em mim.


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maria toscano.
Coimbra, Casa Verde, 19 Abril / 2012.
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Sem comentários:

já de abalada? ande cá! corra a cuartina de riscas e sente-se aí no mocho (no canapé? é melhor nã, nã seja que as preguetas lhe dêem cabo da roupa).
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faz calôrê nã? é tempo dele! no cântaro hai água fresquinha! e se quiser entalar alguma coisaaaa... a asada das azeitonas está chêinha, no cesto hai bobinha e papo-secos (com essa chôriça... ou com o quêjo de cabra, iiiisso!, nessa seladêra de esmalte!);
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chegue-se à mesa! - cuidado não lhe rebole a melancia para cima dos dedos do péi... assim... - entã nã se está melhórê?
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nã, nã, agora nã vai máinada! estou a guardar-me pra logo... ora na houvera de sêri! ah! já lhe dê o chêro! pois é: alhos e coentros e um nadica de vinagrê... vem aí do alguidar de barro... sim, sã nas carnes prá cêa.
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como nã sê o que o trouxe cá, forastêro, ‘stêja nesta sulmouradia como à da sua: pode ir mirando os links ("do monte"; "olivais..."; "deste planAlto..."; estas é que são...") os montes de que gostamos; pode ir vendo os posts por data ou esprêtando as nossas etiquêtas
("portados"); ou pode ir passando os olhos só pelos mais recentes.
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ah! repare lá que por estes lados nã temos o hábito de editarê todos os dias - não é um blogue-diário, 'tá a vêri?; pensámo-lo antes como sendo uma espécie de blogue-testemunho das vozes do Sul (o de cá e os Suis todos); mas temos ainda muito qu'arengar... vamos lá chegando, n'éi? devagarê, que o sol quêma!
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