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no dia em que eu te disser que parto
o que tens de fazer é dizeres-me, bem sei,
já mo tinhas dito, amor, num certo verso.
no momento em que, há-de, chegar a hora
de te soltar de vez livre a voar
de te entregar de volta à casa mãe
meu amor, podes, até, respirar fundo
baixar um pouco a cabeça, rodando-a sobre ti
podes fixar o olhar no longe ponto distante
que é o mais fundo que encontrares em ti,
podes estremecer — mas pouco, amor, e sem demoras
nem dramatismo alheio àqueles cujos dias
devem ser devotados e enternecidamente
dedicados às artes das esferas e esquinas.
podes, meu amor eterno e de até sempre,
podes sentir algum arrepio na nuca
uma tremente veia descendo-te em ombro
em antebraço até ao punho anónimo
onde não ponho mais advérbios nem adjectivos
porque, venho avisando, as palavras não evitam a pulsação.
nesse dia na hora e no pleno momento
— queira o acaso, se nos destinámos cumpri-lo —
no preciso instante e vez de me despedir de ti
peço-te, amor, apenas isto te peço:
guarda as virgens águas que te hão-de invadir
abraça as águas roucas que te vão magoar
cala-as no sítio onde o sal, amargo, devém pranto
mesmo que nem percebas a razão do leito / húmido e quente a marejar-te as formas.
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no dia em que eu te disser que parto
o que tens de fazer é dizeres-me, bem sei,
já mo tinhas dito, amor, num certo verso.
no momento em que, há-de, chegar a hora
de te soltar de vez livre a voar
de te entregar de volta à casa mãe
meu amor, podes, até, respirar fundo
baixar um pouco a cabeça, rodando-a sobre ti
podes fixar o olhar no longe ponto distante
que é o mais fundo que encontrares em ti,
podes estremecer — mas pouco, amor, e sem demoras
nem dramatismo alheio àqueles cujos dias
devem ser devotados e enternecidamente
dedicados às artes das esferas e esquinas.
podes, meu amor eterno e de até sempre,
podes sentir algum arrepio na nuca
uma tremente veia descendo-te em ombro
em antebraço até ao punho anónimo
onde não ponho mais advérbios nem adjectivos
porque, venho avisando, as palavras não evitam a pulsação.
nesse dia na hora e no pleno momento
— queira o acaso, se nos destinámos cumpri-lo —
no preciso instante e vez de me despedir de ti
peço-te, amor, apenas isto te peço:
guarda as virgens águas que te hão-de invadir
abraça as águas roucas que te vão magoar
cala-as no sítio onde o sal, amargo, devém pranto
mesmo que nem percebas a razão do leito / húmido e quente a marejar-te as formas.
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no dia em que eu te disser que vou de vez
vais dizer-me, bem sei, sei bem, amor meu
já mo tinhas dito, meu amor, num verso certo.
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maria toscano.
Coimbra, Casa Verde, 14 abril / 2012.
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