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domingo, abril 08, 2012

fado do verso burlado (Fado 'Triplicado')

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(quinta versão)

não me saem da cabeça
dois versinhos de uma letra
que fizeste para fado:
' levo aos ombros as esquinas
  trago varandas no peito'
— mas que versos bem esgalhados!


por serem dois belos versos
trazidos pela mestria
que te é própria, ó Ary,
não me saem da cabeça
desde esse primeiro dia
quando, cantados, os ouvi.


e nem só estes! lembro, antes,
muito verso apaixonado
à tua amante Lisboa;
mais tantas fotos cantantes
do povo bem retratado
pela tua voz que, ainda, ecoa.


Zé Carlos, tu, não podias
lá por seres, também, 'dos Santos'
enganar teu portugal:
tu, casado com a Poesia
assumias em todos os cantos
ser amante da capital.


meu querido Poeta amigo
caído no crime antigo,
fosse esse, só, o teu pecado!
mas, à amante e à amada,
somaste outro carinho?/capricho? e
foste mal interpretado.


para falar com clareza,
tua vida foi uma aventura
de amorosa trilogia:
à Lisboa e à Poesia
juntaste — e ainda dura —
amor à Alma portuguesa.


nem sei que mais te confesse
e nem porque aqui cheguei
entre ideias encadeadas.
verdade é que me parece
dos versos, por onde entrei,
serem ideias roubadas.


isso mesmo! digo e redigo
dos ombros com as esquinas
e das varandas no peito.
das esquinas?! faço eu leito!
e as varandas floridas?!
ó Ary, trago-as comigo!


que seja menina e moça
a branca cidade branca
é mister que não contesto.
que os azulejos de louça
sejam banda desenhada
é lição que jamais esqueço.


posso mesmo admitir
que a feira da ladra nova
seja o reduto dos cravos
floridos no mês de Abril
promessas, de cujo travo
bem avisaste a demora.


como até ainda me encanta
o amarelo da carris
e o tal barco de brincar. 
aliás, já nem me espanta
haver náufragos viris e
varinas a navegar.


agora, quanto às varandas
vistosas mas, recatadas:
é onde guardo o que sigo
e abrigo de outras demandas,
pela calma abrigadas,
e onde acalmo o que persigo.


varandas trago, te digo,
janelas, arcos, sacadas
por assomar ou viver.
trago janelas comigo
por abrir, entrelaçadas 
nos gestos de assim me ser


janelas frescas varandas
enlaçadas à loucura
moldam-me os gestos que lavro
varandas, sacadas francas
temperadas aberturas,
pátios simples átrios, adros


trago janelas esmeradas
dos desabrigos guardadas
e protegidas, enfim:
trago varandas rasgadas
destemidas, destinadas
ao amor dele que vive em mim.


assim, dói-me o coração
pois, Ary, o tal versinho
que consta desse teu fado
assim, dói-me o coração
pois, Ary, o tal versinho
no teu tão grande poemário
'levo aos ombros as esquinas
trago varandas no peito' )
é o meu verso apaixonado
'levo aos ombros as esquinas
trago varandas no peito'
— não me calo: foi-me roubado!
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Música: José Marques (Piscaralete — 'Fado 'Triplicado' )
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maria toscano.
Coimbra, Casa Verde, 22-25 Março; 5-6 Abril/ 2012.

Sem comentários:

já de abalada? ande cá! corra a cuartina de riscas e sente-se aí no mocho (no canapé? é melhor nã, nã seja que as preguetas lhe dêem cabo da roupa).
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faz calôrê nã? é tempo dele! no cântaro hai água fresquinha! e se quiser entalar alguma coisaaaa... a asada das azeitonas está chêinha, no cesto hai bobinha e papo-secos (com essa chôriça... ou com o quêjo de cabra, iiiisso!, nessa seladêra de esmalte!);
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chegue-se à mesa! - cuidado não lhe rebole a melancia para cima dos dedos do péi... assim... - entã nã se está melhórê?
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nã, nã, agora nã vai máinada! estou a guardar-me pra logo... ora na houvera de sêri! ah! já lhe dê o chêro! pois é: alhos e coentros e um nadica de vinagrê... vem aí do alguidar de barro... sim, sã nas carnes prá cêa.
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como nã sê o que o trouxe cá, forastêro, ‘stêja nesta sulmouradia como à da sua: pode ir mirando os links ("do monte"; "olivais..."; "deste planAlto..."; estas é que são...") os montes de que gostamos; pode ir vendo os posts por data ou esprêtando as nossas etiquêtas
("portados"); ou pode ir passando os olhos só pelos mais recentes.
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ah! repare lá que por estes lados nã temos o hábito de editarê todos os dias - não é um blogue-diário, 'tá a vêri?; pensámo-lo antes como sendo uma espécie de blogue-testemunho das vozes do Sul (o de cá e os Suis todos); mas temos ainda muito qu'arengar... vamos lá chegando, n'éi? devagarê, que o sol quêma!
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