Escreve-Me… — O Livro D'Ele, Poemas / Florbela Espanca
"Escreve-me! Ainda que seja só
Uma palavra, uma palavra apenas"
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escrevo-te, ainda que só mesmo uma palavra
porque o poema não advém do ajuntamento
de letras em sílabas e em nomes a nomear.
escrevo-te com o mesmo sangue moreno
desde o mesmo monte moreno a ver a seara
desde o centro da oliveira a gemer ouro
desde o cimo da azinheira a guardar o sol
— te escrevo paciente e irrequieta
agachada entre papel e lápis viciosos.
por entre o restolho e os girassóis ressequidos
distingo o verde do fogo nos amarelos.
ao fundo, entre a linha do horizonte
destrinço o teu ombro e o teu abraço
fidelizados no acto da escrivação:
minha palavra, cautelosa, te dá a mão.
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maria toscano.
Coimbra, (C)asa Verde, 1 Maio / 2012.
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(derivação de soneto de Florbela Espanca.)
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