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sábado, dezembro 24, 2005

Lisbon Revisited por A. Campos em 1923

. .NÃO: Não quero nada.
.Já disse que não quero nada.
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.Não me venham com conclusões!
.A única conclusão é morrer.
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.Não me tragam estéticas!
.Não me falem em moral!
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.Tirem-me daqui a metafísica!
.Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
.Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
.Das ciências, das artes, da civilização moderna!
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.Que mal fiz eu aos deuses todos?
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.Se têm a verdade, guardem-na!
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.Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
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.Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
.Com todo o direito a sê-lo, ouviram?
.
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.Não me macem, por amor de Deus!
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.Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
.Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
.Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
.Assim, como sou, tenham paciência!
.Vão para o diabo sem mim,
.Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
.Para que havemos de ir juntos?
.
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.Não me peguem no braço!
.Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
.Já disse que sou sozinho!
.Ah, que maçada quererem que eu seja de companhia!
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.Ó céu azul — o mesmo da minha infância —
.Eterna verdade vazia e perfeita!
.Ó macio Tejo ancestral e mudo,
.Pequena verdade onde o céu se reflete!
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.Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
.Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.
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.Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo... .E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho! . . Álvaro de Campos

Sem comentários:

já de abalada? ande cá! corra a cuartina de riscas e sente-se aí no mocho (no canapé? é melhor nã, nã seja que as preguetas lhe dêem cabo da roupa).
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faz calôrê nã? é tempo dele! no cântaro hai água fresquinha! e se quiser entalar alguma coisaaaa... a asada das azeitonas está chêinha, no cesto hai bobinha e papo-secos (com essa chôriça... ou com o quêjo de cabra, iiiisso!, nessa seladêra de esmalte!);
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chegue-se à mesa! - cuidado não lhe rebole a melancia para cima dos dedos do péi... assim... - entã nã se está melhórê?
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nã, nã, agora nã vai máinada! estou a guardar-me pra logo... ora na houvera de sêri! ah! já lhe dê o chêro! pois é: alhos e coentros e um nadica de vinagrê... vem aí do alguidar de barro... sim, sã nas carnes prá cêa.
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como nã sê o que o trouxe cá, forastêro, ‘stêja nesta sulmouradia como à da sua: pode ir mirando os links ("do monte"; "olivais..."; "deste planAlto..."; estas é que são...") os montes de que gostamos; pode ir vendo os posts por data ou esprêtando as nossas etiquêtas
("portados"); ou pode ir passando os olhos só pelos mais recentes.
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ah! repare lá que por estes lados nã temos o hábito de editarê todos os dias - não é um blogue-diário, 'tá a vêri?; pensámo-lo antes como sendo uma espécie de blogue-testemunho das vozes do Sul (o de cá e os Suis todos); mas temos ainda muito qu'arengar... vamos lá chegando, n'éi? devagarê, que o sol quêma!
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