Central Blogs
. Licença Creative Commons
sulmoura de Maria Toscano está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em http://sulmoura.blogspot.pt/.
Mostrar mensagens com a etiqueta de maria toscano — poemas para o pai. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta de maria toscano — poemas para o pai. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, julho 03, 2012

talvez

.
.
talvez uma lágrima, doce sim, volte e revolte
os gestos serenos que fui aprendendo contigo.
.
talvez uma passada inquieta e apressada 
irrompa e rompa a compassada marcha que já sou.
.
talvez saudade lembranças nostalgia e mesmo
amor de filha — palpitando neste peito
.
e talvez um assobio com três notas
me faça virar a cabeça para trás
e recordar-te parte — pai — do meu caminho.
.
.
.

maria toscano ©
.
Coimbra, Casa Verde. 2 Julho / 2012.


domingo, agosto 14, 2011

Pai

.

.

.

das raízes e ventos do campo

trazes, ao dia a dia,

o vigor.

.

enlaças, de descanso,

a fadiga

contornas a fadiga / inventada, sem rotina.

.

activo, surpreendes a idade

altivo, marcas a fundo a verdade:

és, do vento, o furor

moves sementes

és, da raiz, o valor.

.

.

.

maria toscano.

Coimbra. 8 Junho / 2000.

.

quarta-feira, janeiro 26, 2011

tríptico

.
a.
.
.
.
a mãe
desce as escadas com a bébé
ao colo
a mais velha
brinca no tapetão de ovelha
acamado sobre os ladrilhos vermelhos
boneca de trapos
cavalinho de madeira
meadas de lã
gato e gata
— uma harmonia perfeita
de inocência e candura
uma inteira brincadeira.
apesar dos fios enleados
apesar dos lios
dos pêlos de felinos e
da desarrumação às cores
por baixo de mesa
e cadeiras.
.
.
.
a mãe
com a bébé ao colo
sorri.
.
.
.
aproxima-se
— a mãe com a bébé ao colo —
e senta-se, cuidadosa,
ao lado da mais velha.
a barriga do gato
depois de uma cambalhota
roça-lhe, de propósito,
o joelho.
.
.
.
a mais velha
embora já ande bem
gatinha, melosa,
para vir dar colo à bébé.
.
.
.
assim se inicia
a época do Natal
enquanto o pai não chega
das compras-surpresa
para todas.
.
.
.
assim se vive
o espírito do Natal.
.
que maior harmonia
pode
alguém na vida
desejar?
.
.
.
.
b.
.
.
.
.
astrais
enormes
os olhos das meninas
saboreiam as prendas.
.
.
.
abraçadas às bonecas
ao papel e aos laços
amarelos
brilhantes
as meninas estão felizes.
.
.
.
são elas
as nossas guias
pela esperança.
.
.
.
e o mundo inteiro
abraça, grato,
a estas e todas
as meninas
brilhantes
com olhos e coração
enormes. astrais.
.
.
.
.
c.
.
.
.
.
pela vida fora
levaremos
o tinir
dos sininhos
de imaginárias renas
de improváveis Magos
de impossíveis barbas
brancas
pontuais ao minuto,
a descer pela chaminé.
.
.
.
pela vida fora
levaremos?
trazemos.
ou não fora
esta
a época do nascimento
do real menino
nascido em palhinhas fabulosas
para governar
o mundo
real
do Bem e do Mal.
.
.
.
maria toscano
Coimbra, Café Tropical
20 Dezembro/2010
.

sexta-feira, janeiro 07, 2011

ponto da situação

.
.
.
intuo que estejas bem,
pai.
e, embora confiante de que nada
do que te diga te espante
cumpre-me, como filha
amada e querida
manter-te a par
das coisas:
.
.
.
os pés que se ouvem
nas ruas
marcham ou correm mesmo
tanto o frio
interior
a congelar as consciências
a coragem e a constância.
.
há meninas e meninos
a ir e vir tristes
da escola.
desaprenderam, os crescidos,
o encantamento da vida
e à argúcia infantil
não escapam tais trejeitos
de sordidez e desistência.
.
há jovens encarquilhados
medrosos e parados
à espera do futuro
outros jovens, porém,
persistem na roda da vida
caminhando do presente para o futuro,
único modo de resguardar o passado.
.
os velhinhos satisfeitos por viver
dão voltas aos chapéus de chuva
(como o Charlot, estás lembrado?)
atravessam devagarinho nas passadeiras
páram a olhar o céu
uma moça decotada que passe
ou coisa nenhuma
pensada para dentro.
.
as velhinhas felizes por viver
sofredoras dos ossos
insistem em carregar sacos
casacos mochilas e chapéus
aos netos.
tristes — infelizes, mesmo —
parecem os passantes
encerrados em carros
contas-visa e
status da contrafacção
instalada
agora
nas identidades e
modos de ser
de alguns humanóides.
.
bem sei, pai, é a condição humana.
.
bem sei que o fruto e as folhas
têm de cair
todos
no chão
para poder a vida refazer-se.
.
estamos, pois,
num dos invernos da humanidade.
.
conto contigo
para assinalares
o momento da floração.
.
.
.
e, de momento, é tudo.
um beijo terno
desta que tanto te quer
e atende as notícias — sinais —
da tua parte.
.
.
.
maria toscano.
Coimbra. Restaurante AllôPizza. 5 Janeiro/2011
.

terça-feira, dezembro 14, 2010

cumplicidades

.
.
.
1.
.
.
.
longe e saudosa, a tua mão,
pai.
.
rugosa da terra das vagens
e das vagas humanas de arrogância
e pólvora impunes.
longe e saudosa
a tua voz
pai.
guardo-ta na letra
cúmplice
do poema.
.
.
.
2.
.
.
.
nesta época de irmos
ao musgo
impões-te mais.
.
vamos até às bermas da cidade
andando
comentando folhas cascas
de árvores
raízes
— poemas.
.
e quando a água escorreu
por encostas pequenas
damos o salto
— rara a vez que não me
encharco de lama —
e toca a guardar o tapete
verde
nas sacolas previdentes.
.
nesta época
de irmos ao musgo
confia, pai:
desta vez, faço-te eu o presépio.
.
.
.
3.
.
.
.
agora que estás por aí
em perspectiva
bem sei que entendes
as quilhas e esquinas
que sei bem.
.
.
.
4.
.
.
.
guarda-me o passo
o abraço a compaixão
protege-me os gestos
os actos e os silêncios
mas, sobretudo, acima de tudo
guarda-me inteira
intensa e plena voz
a minha voz
para poder
sempre que eu queira
chamar-te pai.
.
.
.
maria toscano
Coimbra, 12 Dezembro/2010.
Restaurante-Pizzaria "Allô Pizza".
.
já de abalada? ande cá! corra a cuartina de riscas e sente-se aí no mocho (no canapé? é melhor nã, nã seja que as preguetas lhe dêem cabo da roupa).
.
faz calôrê nã? é tempo dele! no cântaro hai água fresquinha! e se quiser entalar alguma coisaaaa... a asada das azeitonas está chêinha, no cesto hai bobinha e papo-secos (com essa chôriça... ou com o quêjo de cabra, iiiisso!, nessa seladêra de esmalte!);
.
chegue-se à mesa! - cuidado não lhe rebole a melancia para cima dos dedos do péi... assim... - entã nã se está melhórê?
.
nã, nã, agora nã vai máinada! estou a guardar-me pra logo... ora na houvera de sêri! ah! já lhe dê o chêro! pois é: alhos e coentros e um nadica de vinagrê... vem aí do alguidar de barro... sim, sã nas carnes prá cêa.
.
como nã sê o que o trouxe cá, forastêro, ‘stêja nesta sulmouradia como à da sua: pode ir mirando os links ("do monte"; "olivais..."; "deste planAlto..."; estas é que são...") os montes de que gostamos; pode ir vendo os posts por data ou esprêtando as nossas etiquêtas
("portados"); ou pode ir passando os olhos só pelos mais recentes.
.
ah! repare lá que por estes lados nã temos o hábito de editarê todos os dias - não é um blogue-diário, 'tá a vêri?; pensámo-lo antes como sendo uma espécie de blogue-testemunho das vozes do Sul (o de cá e os Suis todos); mas temos ainda muito qu'arengar... vamos lá chegando, n'éi? devagarê, que o sol quêma!
.