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quinta-feira, dezembro 06, 2012

a gala



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a despropósito, sem espaço, tempo nem vocação
cumpre-lhe, agora, a tarefa de coveiro.

os ponteiros do relógio,
transparentes
de tanto roçar entre o meio dia e noite,
fraquejam de vez e emitem um feixe fino
de amplos bocejos e admirações.
o pulso esquerdo, livre das horas
encontra a doçura e os gestos redondos
a pousar o medo e a resignação
no tampo de madeira próprio para a função.
o pulso direito afeiçoa-se ao gesto
a subir e descer ainda livre do peso
próprio da pá própria para rasgar torrões
e apartar calhaus. as botas cardadas
com rebordo de lamas já sabem de cor
o caminho onde a cova se vai afundar.
forquilha e ancinho ladeiam a enxada
e prestam-se ao ritual da escavação.

assim que esteja funda e de forma alongada
a cova vai acolher e reciclar em pós
rancores e ranço, raiva ressentimento e
as falsas esperanças esvaídas e podres.

a fechar a gala impõe-se soterrar bem
o caixão bem lacrado.
fica uma oscilação leve desnível da terra
a sinalizar o sítio onde jazem os rancores
enterrados no pó e exilados da mente.

a morte dos gestos, adiada uma vez mais
dá lugar à ternura dos gestos redondos
sem tempos, espaço nem vocação: gestos
a despropósito, bravos, sem resignação.
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maria toscano © inédito
Coimbra, Casa Verde, 5 Dez 2012
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quarta-feira, dezembro 05, 2012

"As coisas mais simples", de Nuno Júdice, Prémio Nacional de Poesia António Ramos Rosa

"O livro "As coisas mais simples", de Nuno Júdice, é o vencedor do Prémio Nacional de Poesia António Ramos Rosa, foi hoje anunciado.
"


"As coisas mais simples" foi editado em Outubro do ano passado pelas Publicações D. Quixote.

O júri - constituído por Fernando Guimarães, José Luís Louro e Pedro Ferre - salientou a "concisão e elegância da sua linguagem que, com despojada narratividade, percorre os mais vastos domínios da Arte Poética em constante diálogo com o quotidiano de 'As Coisas Mais Simples'".

O prémio tem o valor de 5000 euros e será entregue na sexta-feira na Biblioteca Municipal António Ramos Rosa, em Faro, durante um recital integrado em "Faro, Capital dos Poetas e da Poesia", a decorrer até domingo.

Nuno Júdice, 58 anos, natural de Mexilhoeira Grande, Algarve, é professor catedrático de Literatura Portuguesa e entre outros livros publicou "Rimas e Contas", "Cartografia de emoções" e "O estado dos campos".

Recebeu já vários prémios, nomeadamente o D. Dinis, da Casa de Mateus, Bordalo, da Casa da Imprensa, o do Pen Clube e o Fernando Namora, em 2005, pelo livro "Um anjo da tempestade".

Após um interregno de seis anos, a Câmara de Faro decidiu este ano relançar o Prémio Nacional de Poesia António Ramos Rosa, com o objectivo de premiar um livro em português, de autor português, publicado integralmente, em primeira edição, no ano de 2006.

Trata-se da 3.ª edição desta iniciativa, tendo a primeira decorrido em 1999 e o Prémio sido entregue a Fernando Echevarria. A segunda edição teve lugar em 2001, integrada no Festival de Poesia Internacional de Faro, tendo sido atribuído a Fernando Guimarães."

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in https://www.facebook.com/rui.mendes.568, por Rui Mendes

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quarta-feira, outubro 03, 2012

"o meu povo..."


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o meu povo tem saudades da ruga
vincada ao canto da rua de armas em flor na mão.
o meu povo lembra o calor da noite
alumiada ao canto da revolução.
o meu povo tem memória e sentires
dos abraços e grades estreitadas em tempos
que não quer mais, não.
o meu povo tem uma história de hesitantes erros e
também de esperanças de obras e rasgos
preciosos saberes
sonhares ambiciosos
fortes letras e fazeres generosos
tecidos com os mesmos calos e rugas
carinhosos
a guardar da raiva os cravos e as armas
a guardar, do medo, as flores e as mãos.
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maria toscano. ©
Coimbra, Casa Verde, 3 Outubro 2012 (o ano da
não graça da troika por cá)
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sábado, agosto 18, 2012

destes compromissos com os vulcões

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e, como se não bastasse,
tenho destes compromissos com os vulcões.
contidos intensamente aquietados
durante a duração que se impuser
costumamos encaminhar-nos
cúmplices
com a cegueira vivaz do que nasce e brota
de alguma caverna profunda ou desilusão.
encaminhando-nos e amparando-nos
na passada grave certeira lenta
só parecida ao andamento sábio de dromedários
ou ao voo demorado dos elefantes voadores
nas gigantescas telas de ashes and snow.
contidos, aquietados, cúmplices
reconhecemo-nos logo na subtileza
de vapores e fumos que ensaiamos
quando a dúvida nos mexe as entranhas
(enquanto vigorar o tempo no dia-a-dia).
de longe emitimos essa legendas
irreconhecíveis pelos animais moles
sem carapaça ou de porte pequeno.
ambientados aos horizontes largos
como talvez só os tais elefantes e dromedários
os nossos vapores e fumos são também expandidos
da rugosidade ou carapaça de algum
à intimidade ou cratera de outro.
acaba por ser leve, quase infantil
essa ancestral e tão íntima orientação.
os animais moles ou de porte pequeno
passam ao lado e absolutamente ilesos.
mas, no caso das entranhas revolvidas
— as dos ancestrais e contidos vulcões —
redobra o ofício da contenção
reforça-se a artesania da espera
mestria esmerada das criaturas
de grande porte de horizontes bravos
onde as rugas são talhadas pela lava em comoção.
já não recordo quantos encontros intensos
me tem proporcionado a eternidade.
lembro, sim, e sobretudo cada odor
dos fumos e vapores inspirados
no início do ritual da aceitação.
tenho destes compromissos com os vulcões, amor.
e essa é a razão de continuares a sonhar comigo.
ao longo do sonho vais aprimorando a carcaça
redobrando as rugas louvando o silêncio
até ao momento em que me sentirás, ao largo
e cumplicemente virás entregar-me a cratera
que melodicamente tudo isto aguarda em ti.
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maria toscano.
Islândia, blue lagon, 17 Agosto / 2012.
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quarta-feira, agosto 15, 2012

"ali, onde uma terra..."


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ali, onde uma terra se rasgou em duas
onde o calor apartou a américa da europa
naquela ravina de lava fundida
sabemos, agora, o trilho da gestação.
as pedras pomes porosas americanas
erguem-se hieráticas a resguardar os livros
da biblioteca catalogada pelo glaciar.
porosas, as rochas amparam os vendavais
e os tremores exuberantes da crosta funda.
no outro lado, à distância de dois abraços
borbulha, fresca, a água em cascata
modesta mas aprimorada pela lava.
é puríssima a água corrente islandesa
purificada pelo leito fixo da lava.
o leito ancorado na ravina onde o glaciar
prossegue o húmido e carente aninhar-se
e espraiar-se ao longo do vale celta
onde mora a cama morna do aconchego.
como vês — meu amor inexistente
pois eterno íntimo e frondoso ­—
ali, o tempo foi, de vez, desmascarado.
ao longo do trilho da gestação da terra
apenas se sobrepõe ao canto do glaciar
uma batida certíssima interna
a cadência do pulsar do ventre eterno
repartida um pouquinho por todos nós
ouvintes, amorosos, da pulsação do grande universo
guardadores distraídos do grão de terra alojado no peito
onde ressoa o mágico latejar
e, brioso, o silêncio se envaidece e fica.
ali, onde uma terra se rasgou em duas
para o trilho da gestação ser: respirar.
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maria toscano. 15 Agosto / 2012, Islândia.
Reykjavik, Radisson Blue Hotel Saga.
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segunda-feira, julho 16, 2012

poema de Amor


(a A.M.O.)
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e, por outro lado, sempre vale a pena
comemorar a subtileza do gesto
o teu pestanejar que me adoça a face e a noite
o encostar do teu sorriso à madrugada que, assim, devém
                                                                               [ nossa
inviolável irrepetível e indizível
sem post possível nem like nem externalidades
profanas que afogariam o lago suave
onde mergulhamos de cada vez que, apenas, somos.
amo-te muito meu amor, disse Sena , digo eu
e dirão os astros e os luzeiros todos dos Universos
pois que de luz se trata o que trazes na algibeira
ou no bolso de trás das calças onde, distraído, te sentas.
pois que de luz e fogos, misteriosos e crescentes
fogos brandos onde aqueço a alma, se me estremece
fogos bravos onde ateio a vontade de ser.
por todos os séculos dos séculos, ámen
agradeço ao anónimo momento em que és
em que me ajudas a ser mulher melhor: a ser.
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maria toscano. ©
Coimbra, Casa Verde, 16 Julho / 2012.
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sábado, julho 14, 2012

como: parar?

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como: parar? desistir? fugir? reformular?
como o poderia eu fazer?
eu que ainda mal nasci
e venho de pés nus dançar?
eu que ainda mal vivi
e tenho o mundo todo para amar?"
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maria toscano. inédito ©
Coimbra, (C)Asa Verde, 12Julho/2012.
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naquelas paragens

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morrer é uma felicidade nesses sítios.
haver alguma bala que entre, certeira sem derivar pela face ou pelo ouvido ou mesmo pela mandíbula
para amaldiçoar o resto da vida retida numa cama.
haver uma guilhotina doméstica inesperada — tão inesperada quão casual na sua causalidade desejada —
perpendicularmente recortando o fluxo sobrante da paixão.
haver mesmo uma corrente de ar abençoada na fatalidade do pulmão devastado
ou haver um parapeito onde o detergente escorrega mais e de vez.
morrer, por esses lados, naquelas paragens, é uma felicidade.
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maria toscano. ©
Coimbra, (C)Asa verde, 14 Julho / 2102.
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quarta-feira, julho 04, 2012

lembrete à sombra


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sabendo que todos somos um
falta-me a buganvília que amarelece.
estremeço com a secura de algum pinheiro.
gela-me a alegria na morte de cada palmeira.
sofro com o canto do melro a esbater-se no solo.
dói-me a nervura da calma
se o alecrim não reverdece aos molhos.
rasga-se-me o rir, por instantes,
se as cadelas, por instantes, se ouvem ganir.
perco, brevemente, o centro do equilíbrio
quando o equilíbrio falha e se perdem antigos amigos.
sinto a dor ao elefante ao tigre ao lobo à baleia e ao mar
sinto os rios saturados de lixo e as gentes rasando o penar.
sabendo que somos todos todos
e que o um está em todos e todos somos esse um
oh meu amor eterno, é claro que também sofro
é claro que também choro e me acinzento e entristeço
desde os pulsos ao olhar, do olhar até à voz
e, da voz encantadora, saem-me rimas e ritos
que desconheço, que não domino
diria mesmo: são rezas, rituais de sonhos aflitos:
a voz da fé de quem sofre com a partida de alguém
que lhe pertence. alguém a quem pertence, a quem
livremente pertence sabendo-se quem e que é livre
só por sermos o que somos, só por sermos todos um.
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maria toscano. ©
Coimbra, Casa Verde. 4 Julho / 2012.
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terça-feira, julho 03, 2012

talvez

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talvez uma lágrima, doce sim, volte e revolte
os gestos serenos que fui aprendendo contigo.
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talvez uma passada inquieta e apressada 
irrompa e rompa a compassada marcha que já sou.
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talvez saudade lembranças nostalgia e mesmo
amor de filha — palpitando neste peito
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e talvez um assobio com três notas
me faça virar a cabeça para trás
e recordar-te parte — pai — do meu caminho.
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maria toscano ©
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Coimbra, Casa Verde. 2 Julho / 2012.


segunda-feira, julho 02, 2012

do Amor

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mais livre do que o poema nada há.
nada é mais livre do que a poesia
a palavra arrendada a subtil filigrana
o traço no espaço, a dança do som
a filigrana esmerada de silêncio e letras
a finíssima rede no ar tecida
entre a inspiração
e a expiração.
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por saberem disso é que nossas mãos
caminham juntas e se entendem tão bem
mesmo quando calam o dom. a voz.
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maria toscano. inédito ©
Coimbra, (C)Asa Verde. 1-2 Julho/2012
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domingo, julho 01, 2012

sem palavras

sem palavras, intacta, fico pousada
no incrível sentimento que sei.
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podem voar as estranhas aves, piar a coruja,
cantar o cisne.
apenas
e absolutamente
o silêncio dos nossos gestos
dizem.
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obrigada, amor, por me prendares
com o teu silêncio esplendoroso.
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maria toscano.
Lisboa, 30 junho 2012.
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quinta-feira, junho 28, 2012

a palavra


‎"E é da cegueira,
da sua impossível dádiva,
que irrompe o ser que a palavra enuncia."
A PALAVRA
José Fernando Guimarães (Porto, Portugal, 1951). in
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o ser que a palavra anuncia
já aí está
já aqui está
já está já
vindo do futuro do imaginário do desejo
nascido do beijo da abertura pela claridade
migrando do sem-tempo indizível
que só a pele sabe dançar, digo, nomear
o ser que a palavra anuncia
jamais se entrega a esta dimensão:
da luminosa cegueira incandescente
mas subtil e levemente anunciada
o ser que a palavra anuncia
jamais entrega o jogo de espelhos
intemporal
para poder emergir pela palavra
enunciada.
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maria toscano. Inédito © .
Coimbra, casa verde, 27 junho / 2012
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regresso


"e volto à velha casa"
Ary dos Santos.
Fado do campo grande

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no regresso da viagem da saudade
no regresso da viagem da mudança
encontro à entrada, junto ao portão velhinho
um botão teu, de punho amadurecido

um botão teu de camisa branca lisa
negro, de platina antiga e enrugado
como o teu coração fundo e amado
estremece à beira da minha-nossa mão

de regresso nem sabes de que paragens
de regresso nem te digo de que andanças
encontro a minha trança e o laçarote

cor-de-rosa junto ao velho portão
como o teu coração pleno — aberto —
me aceita ternurenta, no regresso.
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maria toscano.  ©.
Coimbra. (C) Asa Verde. 27-28 Junho / 2012.
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terça-feira, junho 26, 2012

se, hoje,


1.

se hoje não me dás a mão
se hoje não me deres o braço
desconfio que os pontos cardeais
se dispersarão pelo espaço

se hoje me não deres o ombro
se o teu abraço, hoje, não me alcança
as folhas dos plátanos antecipando outonos
vão dispersar-se entre os passos estivais.

se o teu olhar, hoje vacila
se hoje não te ouvir a fala
ah meu amor, tudo o mais que eu diga

tudo o mais que eu escreva e sinta
sabe a vazio sabe a pouco
do tão do muito louco amar.
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2.

se não me alcança a tua mão
como pode a terra girar sem se perder?
como pode a lua mentir sem se descair?
como podem os pássaros, incansáveis,  cantar?
(como o sabem poetas como o Vilhena)
como pode a saliva conter-se 
e não devir maré nem rio farto?
como o vento se encaminha livre de mapas?
como ainda riem as crianças, sofregamente
ao lado de mães e avós aquietadas a estar?
como o como pode ser tão somente como
e não se converter ao quanto ao onde nem ao porquê?


se a tua mão, amor, me não alcança
tudo o que existe é baço e morre numa miragem vil.
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maria toscano. inédito. ©
Coimbra, Casa Verde, 25-26 Junho / 2012.
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domingo, junho 24, 2012

inspiração — 1.

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1.
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vai não vai, penso em dizer-to, cara a cara
mas, quando nos encontramos, há sempre tanto ar para eu gerir
tanta saliva para cuidar entre a língua e os lábios
para cuidar das palavras que te diga
dos intervalos entre as palavras (dos silêncios que te dê, dos sagrados
momentos em que espero e guardo a tua resposta a tua pergunta
a tua pausa)
sim, é verdade, podia enviar-te um mail uma mensagem no facebook
ou iniciar uma conversa de chat
podia...
lá isso podia.
vai não vai, penso
no que te quero dizer no que tenho para te dizer — penso
em dizer-to
penso,
meu amor,
cara a cara
dedo a dedo
mão a mão
corpo a corpo
mundo a mundo, inteirinhos, juntinhos os nossos mundos
loucos e inacessíveis aos outros que ficam a ver o que de fora nós lhes damos.
penso
e não digo.
porque sei
porque sinto
que o que te quero dizer
meu amor
é indizível por ser a fala onde nos abrigamos
no silêncio
na pausa
na redonda inspiração do verbo amar.
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maria toscano. © inédito.
Coimbra, (C)Asa verde. 24 Junho / 2012.
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fala da saudade

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fala a solidão com aromas de bossa-nova
a invadir o dia mais longo do ano
'o seu balanceado é bem mais que um poema'.
falam os pequenos e os grandes passos
a disfarçar a inclinação da calçada
ao mesmo tempo que amansam a agitação
'por toda a minha vida eu vou-te amar'.
fala a solidez da cintura
a redonda ternura do seio maduro
a paciente envolvência dos teus dedos
'ficar no teu corpo feito tatuagem'.
fala o grave e destemido espasmo
ensombrado, às vezes, pela distância
sempre animado pela tua presença
por mais solene ou ímpar o desvario
o incontornável estremecimento aguado
'tem um geito estranho que é só seu'.
fala a saudade polvilhada de ficção
ancorada na múltipla fracção que geme
animada pela íntima fricção errante
na descoberta que abre o peito e os jeitos
no encantamento que liga o jeito aos gestos
no consolo dos destemores fundidos
'a certeza do meu mais brilhante amor'.
fala a saudade cansada de se calar
mas, para além de exausta, comovida,
na sua serenidade sábia, 'ai de quem
não rasga o coração (...) não vai ter perdão'.
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maria toscano.
Porto. Majestic Café. 22 Junho / 2012.
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sexta-feira, junho 22, 2012

"busco o lugar..."

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busco o lugar adequado
para colocar-te com carinho
( ao lado o saxofone lembra-me o beijo
  besame mucho como si fuera... la... )
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pergunto pelo sítio acertado
para pousar-te cuidadosamente
( ao longe o acordeão dobra o refrão
  !y para nada me sirve sin ti! )
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procuro o local indicado
onde possa deixar-te a repousar
( ao fundo, em dedilhado, o violino vibra
   estás perdiendo el tiempo / quizás, quizás... )
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por fim encontro-te um destino
onde alojar-te , meu querido fado
( este amor vino así desta manera
  e persistes na memória desse tango vivo).
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maria toscano.
Porto. Majestic Café. 21 junho / 2012.
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enquanto o som quebrar a monocórdica sombra do tédio

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enquanto o som quebrar a monocórdica sombra do tédio.
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enquanto o toque assombrar a veia atónita do medo.
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a par do canto ao sul endiabrado em arpejos e danças.
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ao lado de cada compasso silêncio suspiro ou brado.
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por dentro do movimento de contra-acção do fumo no ar
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por dentro de cada acção que habilita o sonho a voar.
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rente ao rodapé da emoção tímida, de hábitos tolos,
arrepios foscos, gestos poucos e da entrega adiada.
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ao ritmo do raio de sol a desvelar a minúscula flor lilás
rompendo o vazio na calçada de pedra, tecida à mão.
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ah e enquanto durar o teu sorriso vertendo no meu.
ah e enquanto o meu sorriso durar vertido no teu.
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permanecerei. confiante, pendente,
esperançada alucinada
à espera de cada radical. palavra
lavra do universo que escrevas subtilmente
para depois, como me cumpre, eu gravar
— a traços de águas coloridas,
     no papiro do desejo e do amor —
a mais universal emoção.
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maria toscano. ©
Coimbra, (C)asa Verde, 19 junho / 2012.


sexta-feira, junho 15, 2012

aprender

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confesso-me vencida superada
reduzida à diminuta dimensão
do minúsculo ser onde se lavra
a inesperada e gigantesca emoção.

confesso reconhecer-me: pequenina.
confesso reencontrar-me: situada.
confesso desconhecer-me: sitiada.
e ainda confesso prever-me: encarecida

mente grata e entregue ao que me habita
e, vibrando, me alonga e engrandece
até ao limite subtil do sem limites.

neste modo amante, o que nos incita
ao voo, cujo fim se desconhece,
é a eternidade, o enquanto me habites.
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maria toscano.
junho (Coimbra, 9; Nîmes, 14) / 2012.
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já de abalada? ande cá! corra a cuartina de riscas e sente-se aí no mocho (no canapé? é melhor nã, nã seja que as preguetas lhe dêem cabo da roupa).
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faz calôrê nã? é tempo dele! no cântaro hai água fresquinha! e se quiser entalar alguma coisaaaa... a asada das azeitonas está chêinha, no cesto hai bobinha e papo-secos (com essa chôriça... ou com o quêjo de cabra, iiiisso!, nessa seladêra de esmalte!);
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chegue-se à mesa! - cuidado não lhe rebole a melancia para cima dos dedos do péi... assim... - entã nã se está melhórê?
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nã, nã, agora nã vai máinada! estou a guardar-me pra logo... ora na houvera de sêri! ah! já lhe dê o chêro! pois é: alhos e coentros e um nadica de vinagrê... vem aí do alguidar de barro... sim, sã nas carnes prá cêa.
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como nã sê o que o trouxe cá, forastêro, ‘stêja nesta sulmouradia como à da sua: pode ir mirando os links ("do monte"; "olivais..."; "deste planAlto..."; estas é que são...") os montes de que gostamos; pode ir vendo os posts por data ou esprêtando as nossas etiquêtas
("portados"); ou pode ir passando os olhos só pelos mais recentes.
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ah! repare lá que por estes lados nã temos o hábito de editarê todos os dias - não é um blogue-diário, 'tá a vêri?; pensámo-lo antes como sendo uma espécie de blogue-testemunho das vozes do Sul (o de cá e os Suis todos); mas temos ainda muito qu'arengar... vamos lá chegando, n'éi? devagarê, que o sol quêma!
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