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sabendo que todos somos um
falta-me a buganvília que amarelece.
estremeço com a secura de algum pinheiro.
gela-me a alegria na morte de cada palmeira.
sofro com o canto do melro a esbater-se no solo.
dói-me a nervura da calma
se o alecrim não reverdece aos molhos.
rasga-se-me o rir, por instantes,
se as cadelas, por instantes, se ouvem ganir.
perco, brevemente, o centro do equilíbrio
quando o equilíbrio falha e se perdem antigos amigos.
sinto a dor ao elefante ao tigre ao lobo à baleia e ao mar
sinto os rios saturados de lixo e as gentes rasando o penar.
sabendo que somos todos todos
e que o um está em todos e todos somos esse um
oh meu amor eterno, é claro que também sofro
é claro que também choro e me acinzento e entristeço
desde os pulsos ao olhar, do olhar até à voz
e, da voz encantadora, saem-me rimas e ritos
que desconheço, que não domino
diria mesmo: são rezas, rituais de sonhos aflitos:
a voz da fé de quem sofre com a partida de alguém
que lhe pertence. alguém a quem pertence, a quem
livremente pertence sabendo-se quem e que é livre
só por sermos o que somos, só por sermos todos um.
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maria toscano. ©
Coimbra, Casa Verde. 4 Julho / 2012.
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