1.
se hoje não me dás a mão
se hoje não me deres o braço
desconfio que os pontos cardeais
se dispersarão pelo espaço
se hoje me não deres o ombro
se o teu abraço, hoje, não me alcança
as folhas dos plátanos antecipando outonos
vão dispersar-se entre os passos estivais.
se o teu olhar, hoje vacila
se hoje não te ouvir a fala
ah meu amor, tudo o mais que eu diga
tudo o mais que eu escreva e sinta
sabe a vazio sabe a pouco
do tão do muito louco amar.
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2.
como pode a terra girar sem se perder?
como pode a lua mentir sem se descair?
como podem os pássaros, incansáveis, cantar?
(como o sabem poetas como o Vilhena)
como pode a saliva conter-se
e não devir maré nem rio farto?
como o vento se encaminha livre de mapas?
como ainda riem as crianças, sofregamente
ao lado de mães e avós aquietadas a estar?
como o como pode ser tão somente como
e não se converter ao quanto ao onde nem ao porquê?
se a tua mão, amor, me não alcança
tudo o que existe é baço e morre numa miragem vil.
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maria toscano. inédito. ©
Coimbra, Casa Verde, 25-26 Junho / 2012.
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