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Baseado no trabalho disponível em http://sulmoura.blogspot.pt/.

quinta-feira, dezembro 06, 2012

a gala



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a despropósito, sem espaço, tempo nem vocação
cumpre-lhe, agora, a tarefa de coveiro.

os ponteiros do relógio,
transparentes
de tanto roçar entre o meio dia e noite,
fraquejam de vez e emitem um feixe fino
de amplos bocejos e admirações.
o pulso esquerdo, livre das horas
encontra a doçura e os gestos redondos
a pousar o medo e a resignação
no tampo de madeira próprio para a função.
o pulso direito afeiçoa-se ao gesto
a subir e descer ainda livre do peso
próprio da pá própria para rasgar torrões
e apartar calhaus. as botas cardadas
com rebordo de lamas já sabem de cor
o caminho onde a cova se vai afundar.
forquilha e ancinho ladeiam a enxada
e prestam-se ao ritual da escavação.

assim que esteja funda e de forma alongada
a cova vai acolher e reciclar em pós
rancores e ranço, raiva ressentimento e
as falsas esperanças esvaídas e podres.

a fechar a gala impõe-se soterrar bem
o caixão bem lacrado.
fica uma oscilação leve desnível da terra
a sinalizar o sítio onde jazem os rancores
enterrados no pó e exilados da mente.

a morte dos gestos, adiada uma vez mais
dá lugar à ternura dos gestos redondos
sem tempos, espaço nem vocação: gestos
a despropósito, bravos, sem resignação.
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maria toscano © inédito
Coimbra, Casa Verde, 5 Dez 2012
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Sem comentários:

já de abalada? ande cá! corra a cuartina de riscas e sente-se aí no mocho (no canapé? é melhor nã, nã seja que as preguetas lhe dêem cabo da roupa).
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faz calôrê nã? é tempo dele! no cântaro hai água fresquinha! e se quiser entalar alguma coisaaaa... a asada das azeitonas está chêinha, no cesto hai bobinha e papo-secos (com essa chôriça... ou com o quêjo de cabra, iiiisso!, nessa seladêra de esmalte!);
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chegue-se à mesa! - cuidado não lhe rebole a melancia para cima dos dedos do péi... assim... - entã nã se está melhórê?
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nã, nã, agora nã vai máinada! estou a guardar-me pra logo... ora na houvera de sêri! ah! já lhe dê o chêro! pois é: alhos e coentros e um nadica de vinagrê... vem aí do alguidar de barro... sim, sã nas carnes prá cêa.
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como nã sê o que o trouxe cá, forastêro, ‘stêja nesta sulmouradia como à da sua: pode ir mirando os links ("do monte"; "olivais..."; "deste planAlto..."; estas é que são...") os montes de que gostamos; pode ir vendo os posts por data ou esprêtando as nossas etiquêtas
("portados"); ou pode ir passando os olhos só pelos mais recentes.
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ah! repare lá que por estes lados nã temos o hábito de editarê todos os dias - não é um blogue-diário, 'tá a vêri?; pensámo-lo antes como sendo uma espécie de blogue-testemunho das vozes do Sul (o de cá e os Suis todos); mas temos ainda muito qu'arengar... vamos lá chegando, n'éi? devagarê, que o sol quêma!
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