Central Blogs
. Licença Creative Commons
sulmoura de Maria Toscano está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em http://sulmoura.blogspot.pt/.

sábado, dezembro 03, 2005

Poema em linha recta

"NADA TEU EXAGERA OU EXCLUI"

Pressupostos e fio condutor de uma seleccção - Poemas e Textos Pessoanos

A selecção de textos que a seguir se apresenta brota da perplexidade continuada face à Obra de Fernando Pessoa.

Caracterizada a sua unidade identitária pelo que resumimos como diversidade paradoxal, é pelo movimento do interpelador Desassossego que o Autor desdobra as várias vertentes da meada discursiva ( poética, estética, sociológica, filosófica, ideológica, esotérica…) pessoana.

O ponto de partida desta selecção foi um convite da Casa Municipal da Cultura de Coimbra para integrar o evento relativo aos 70 anos da morte de F. Pessoa, do qual consta uma intervenção, breve, no espaço da Biblioteca Municipal de Coimbra, abordando Vida, Época e Obra de Pessoa - com recurso a diapositivos trabalhados a partir de “O Livro do Desassossego” -, e uma leitura (nas Salas de Catálogo e de Leitura da Biblioteca Municipal) de Poemas significativos.

De modo a articular e completar a abordagem audio-visual - concebida pela Casa Municipal da Cultura de Coimbra - a escolha dos textos para leitura abrangeu Poemas dos 3 Heterónimos mais divulgados – Alberto Caeiro (4 Poemas); Álvaro de Campos (3 Poemas, incluindo-se um fragmento da Ode Triunfal); e Ricardo Reis (3 Poemas) - como também fragmentos, curtos, de outros (6) textos do próprio Fernando Pessoa.

Da articulação entre as 4 assinaturas, pretende-se colocar em interacção aqueles pontos de vista de diversidade paradoxal, ao longo do total de 16 Textos e Poemas seleccionados.

É pois, fundando-se nestes pressuspostos e escolhas, que se elaboraram as propostas de título para a sessão, bem como do respectivo «volante», e o “alinhamento” dos textos para leitura, que passam a apresentar-se - não sem que antes se apresentem os devidos Agradecimentos à Casa Municipal da Cultura e, pelo apoio facultado, a Rui Mendes.

maria toscano, a 20 de Novembro de 2005

...

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.

Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,

Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,

Indesculpavelmente sujo,

Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,

Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,

Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,

Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,

Que tenho sofrido enxovalhos e calado,

Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;

Eu, que tenho sido cómico às criadas de hotel,

Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,

Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,

Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado

Para fora da possibilidade do soco;

Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,

Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo

Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu enxovalho

Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana

Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;

Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!

Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.

Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?

Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!

Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e erróneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,

Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!

E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,

Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear

Eu, que venho sido vil, literalmente vil,

Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Álvaro de Campos

Sem comentários:

já de abalada? ande cá! corra a cuartina de riscas e sente-se aí no mocho (no canapé? é melhor nã, nã seja que as preguetas lhe dêem cabo da roupa).
.
faz calôrê nã? é tempo dele! no cântaro hai água fresquinha! e se quiser entalar alguma coisaaaa... a asada das azeitonas está chêinha, no cesto hai bobinha e papo-secos (com essa chôriça... ou com o quêjo de cabra, iiiisso!, nessa seladêra de esmalte!);
.
chegue-se à mesa! - cuidado não lhe rebole a melancia para cima dos dedos do péi... assim... - entã nã se está melhórê?
.
nã, nã, agora nã vai máinada! estou a guardar-me pra logo... ora na houvera de sêri! ah! já lhe dê o chêro! pois é: alhos e coentros e um nadica de vinagrê... vem aí do alguidar de barro... sim, sã nas carnes prá cêa.
.
como nã sê o que o trouxe cá, forastêro, ‘stêja nesta sulmouradia como à da sua: pode ir mirando os links ("do monte"; "olivais..."; "deste planAlto..."; estas é que são...") os montes de que gostamos; pode ir vendo os posts por data ou esprêtando as nossas etiquêtas
("portados"); ou pode ir passando os olhos só pelos mais recentes.
.
ah! repare lá que por estes lados nã temos o hábito de editarê todos os dias - não é um blogue-diário, 'tá a vêri?; pensámo-lo antes como sendo uma espécie de blogue-testemunho das vozes do Sul (o de cá e os Suis todos); mas temos ainda muito qu'arengar... vamos lá chegando, n'éi? devagarê, que o sol quêma!
.