Enquanto lavro o corpo da manhã o Sol, em cio, cavalga
um cão de fogo por entre nuvens afiladas e a construção
de cidades adivinhadas. Bem perto, porém, há o rodopiar
incessante do disco rubro que agora se estampa em
nosso olhar. Vemo-lo para além das nuvens. Vemo-lo em
cima e para além deste corpo que se adelgaça no esforço
de transportar o astro-rei a caminho de outras galáxias
bem mais perto de nós.
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Rítmica é a sensação do sexo em desespero perante a
ingenuidade artesanal do olhar, firmeza da mão, o gravar
da matéria.
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Assim se constroem as nossas cidades interiores, que ora
são corpo de mulher, ora vielas estreitas por onde
vagueamos a tristeza e as mãos vazias de tudo.
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As colinas ao longe agridem o espaço como justo
contraponto a este paroxismo de dor e de prazer.
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Deixemos as coisas acontecer ao ritmo do tempo que
tomou conta do nosso acaso.
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. Augusto Mota, inédito, in "Geografia do Prazer", 2000.
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