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Baseado no trabalho disponível em http://sulmoura.blogspot.pt/.

quinta-feira, abril 24, 2008

a propósito de «tudo o que laboriosamente pilhais»:

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(Camões dirige-se aos seus contemporâneos)
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Podereis roubar-me tudo:
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as ideias, as palavras, as imagens,
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e também as metáforas, os temas, os motivos,
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os símbolos, e a primazia
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nas dores sofridas de uma língua nova,
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no entendimento de outros, na coragem
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de combater, julgar, de penetrar
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em recessos de amor para que sois castrados.
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E podereis depois não me citar,
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suprimir-me, ignorar-me, aclamar até
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outros ladrões mais felizes.
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Não importa nada: que o castigo
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será terrível. Não só quando
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vossos netos não souberem já quem sois
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terão de me saber melhor ainda
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do que fingis que não sabeis,
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como tudo, tudo o que laboriosamente pilhais,
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reverterá para o meu nome. E mesmo será meu,
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tido por meu, contado como meu,
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até mesmo aquele pouco e miserável
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que, só por vós, sem roubo, haveríeis feito.
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Nada tereis, mas nada: nem os ossos,
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que um vosso esqueleto há-de ser buscado,
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para passar por meu. E para outros ladrões,
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iguais a vós, de joelhos, porem flores no túmulo.
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Jorge de Sena
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Antologia de poesia portuguesa.
M.Meneres/E.M.Castro, Moraes editores.
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Sem comentários:

já de abalada? ande cá! corra a cuartina de riscas e sente-se aí no mocho (no canapé? é melhor nã, nã seja que as preguetas lhe dêem cabo da roupa).
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faz calôrê nã? é tempo dele! no cântaro hai água fresquinha! e se quiser entalar alguma coisaaaa... a asada das azeitonas está chêinha, no cesto hai bobinha e papo-secos (com essa chôriça... ou com o quêjo de cabra, iiiisso!, nessa seladêra de esmalte!);
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chegue-se à mesa! - cuidado não lhe rebole a melancia para cima dos dedos do péi... assim... - entã nã se está melhórê?
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nã, nã, agora nã vai máinada! estou a guardar-me pra logo... ora na houvera de sêri! ah! já lhe dê o chêro! pois é: alhos e coentros e um nadica de vinagrê... vem aí do alguidar de barro... sim, sã nas carnes prá cêa.
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como nã sê o que o trouxe cá, forastêro, ‘stêja nesta sulmouradia como à da sua: pode ir mirando os links ("do monte"; "olivais..."; "deste planAlto..."; estas é que são...") os montes de que gostamos; pode ir vendo os posts por data ou esprêtando as nossas etiquêtas
("portados"); ou pode ir passando os olhos só pelos mais recentes.
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ah! repare lá que por estes lados nã temos o hábito de editarê todos os dias - não é um blogue-diário, 'tá a vêri?; pensámo-lo antes como sendo uma espécie de blogue-testemunho das vozes do Sul (o de cá e os Suis todos); mas temos ainda muito qu'arengar... vamos lá chegando, n'éi? devagarê, que o sol quêma!
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