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domingo, maio 11, 2008

Poeta, fazedor de linguagens - Amador Ribeiro Neto

Poeta, fazedor de linguagens
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Barthes diante de uma fotografia de Jerônimo, último irmão de Napoleão, disse: "Vejo os olhos que viram o Imperador". Este espanto ele dividiu com os amigos. Mas ninguém parecia compartilhá-lo. Então Barthes constata: "A vida é, assim, feita a golpes de pequenas solidões".
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A frase mais parece um verso de T.S. Elliot. Um verso, uma linha, uma frase que agarra na gente. Quem é que está ausente destas golfadas de solidão? Ninguém. Mas somente os poetas sabem transpor para a ciranda de signos um sentimento raro e trivial ao mesmo tempo. A ambigüidade é marca registrada da poesia. O poeta, senhor oceânico dos signos, sabe dizer o inaudito, o inaudível, o desdito, o prescrito, o proscrito. O poeta é aquele que se vale da palavra, da cerâmica, da tela, da areia, da luz, do ferro, da madeira, da pedra, da água, do fogo, do silêncio e dos sons para fazer poesia.
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O poeta é um fazedor de linguagens. O que ele faz é ouro. Midas das mídias, é sempre um meio entre as extremidades do gozo e do martírio.
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Homem do povo, o poeta sabe que nada pode fazer se ignora a língua dos bares, das feiras, dos camelódromos, dos campos, das fábricas, das cozinhas, das vias públicas, das portarias, das fazendas, dos sítios, dos cariris, dos sertões, do agreste, das praias. A língua viva do povo é a melhor matéria e o melhor material do poeta.
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Um povo sem literatura é um povo fadado à bancarrota. Uma nação sem poetas está à beira da derrocada. A um triz de ser engolfada por outras nações e culturas mais fortes. A língua do poeta não pode ser a norma culta. Esta norma asfixia a flexibilidade, o molejo, o dengo de "tudo aquilo que o malandro pronuncia", como pontua Noel. Por ser tão ímpar, tão inesperadamente singular, por mandar às favas as leis do mercado, o poeta então se atreve cada vez mais na busca de uma linguagem nova. A busca pelo novo, pelo ainda não dito nem escrito, move o poeta. O poeta adora selinhos. E abomina ósculos. O poeta abraça apertado. Mas nunca dá um amplexo.
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Na simplicidade do fazer (ou do dizer, já que ambos são a mesma coisa para o poeta) o poeta inaugura outros modos de ser e estar. Outro jeito de corpo. Outra moda, contra a moda.
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Por ser inapreensível em todos e em nenhum modelo, o poeta cria sua própria gramática, seu próprio dicionário, sua exclusiva linguagem. Assim, seu produto não obedece às leis do mercado. O poeta vive a golpes de pequenas solidões.
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todos os direitos reservados para Amador Ribeiro Neto
Jornal A União (Paraíba), 18 de março/2008
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Sem comentários:

já de abalada? ande cá! corra a cuartina de riscas e sente-se aí no mocho (no canapé? é melhor nã, nã seja que as preguetas lhe dêem cabo da roupa).
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faz calôrê nã? é tempo dele! no cântaro hai água fresquinha! e se quiser entalar alguma coisaaaa... a asada das azeitonas está chêinha, no cesto hai bobinha e papo-secos (com essa chôriça... ou com o quêjo de cabra, iiiisso!, nessa seladêra de esmalte!);
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chegue-se à mesa! - cuidado não lhe rebole a melancia para cima dos dedos do péi... assim... - entã nã se está melhórê?
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nã, nã, agora nã vai máinada! estou a guardar-me pra logo... ora na houvera de sêri! ah! já lhe dê o chêro! pois é: alhos e coentros e um nadica de vinagrê... vem aí do alguidar de barro... sim, sã nas carnes prá cêa.
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como nã sê o que o trouxe cá, forastêro, ‘stêja nesta sulmouradia como à da sua: pode ir mirando os links ("do monte"; "olivais..."; "deste planAlto..."; estas é que são...") os montes de que gostamos; pode ir vendo os posts por data ou esprêtando as nossas etiquêtas
("portados"); ou pode ir passando os olhos só pelos mais recentes.
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ah! repare lá que por estes lados nã temos o hábito de editarê todos os dias - não é um blogue-diário, 'tá a vêri?; pensámo-lo antes como sendo uma espécie de blogue-testemunho das vozes do Sul (o de cá e os Suis todos); mas temos ainda muito qu'arengar... vamos lá chegando, n'éi? devagarê, que o sol quêma!
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