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"como não tenho coragem para admitir a minha falta de coragem
irmano-me, devotada,
com todos os macerados
pela doença.
desde cancerígenos a paraplégicos
até aos portadores de aneurisma
elejo os meus alvos de existência
aqueles a quem ponho cadeiras
e mesas
e de quem falo, altruista e
dedicadamente
de quem falo,
alto,
no fim das férias
de merda
contadas na decrescência
das tarefas
do pôr da mesa, fazer as camas
e a comida
e, ainda, de abrir as pernas
fiéis pernas
entreabertas ao fiel marido nas férias
— que não é fiel,
como bem sei
mas não admito
na minha falta de coragem
irmanada
com o lençol sujo que a máquina
agora
centrifuga.
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é, então, ao expressar a compaixão
ao venerar a força de viver
dos existentes macerados pela doença
que regurgito palavras
relatos dos que lutam e
são
é, então, na inusitada conversa
que me domina
e com que tento
dominar
a absoluta falta de coragem para ser
é, então,
recriada em benemérita
em complacente humilde e amigável
pessoa
é, então, que invento
o que devotada, irmanada não sou
pois, sem coragem."
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— nada disto disse. mas podia ouvir-se
bem.
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maria toscano,
Coimbra, Jardim da Manga, 5 Set/ 2008
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