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quinta-feira, novembro 27, 2008

carta da fidelidade

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hoje
nem fui aos gatos.
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vieste mais cedo do que é costume nestas 4.ªs-feiras
de neo-liberalismo desenfreado
em que te vi seres expulsa do meu lado a lado sereno
- o que estranhei, como terás percebido pelo facto de não ter feito barulho -
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e até me parece que te esmeraste no tempo da volta
da meia-noite.
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mas isso agora já não tem importância nenhuma.
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quando leres isto
já estarei na quinta
com os meus amigos
livre e reconciliada com a luxúria
dos cheiros das cores raízes de ramos e
pássaros livres
- invejáveis, esses, com asas -
com a luxúria da vida que
bem sabes
tentei adiar ou dissimular
mas a que não pude resistir mais.
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bem sabes do que falo.
cuida, tu, desse teu amigo
sementeira de luxúria doce
de madura
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a mim, cabe-me honrar a cor
a agilidade e a candura que me tocou nesta terra.
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deixo-te os teus livros
e os CDs
e os discos de vinil.
deixo-te
intacta
a casa 
(honra me seja feita)
e
acima de tudo
deixo
definitivamente
de marcar cada assoalhada com o dourado
da minha respiração.
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enquanto as teclas 
moderadamente soam aí 
mesmo por cima da minha cabeça
inspiro uma vez mais o odor da tua perna
afago, uma vez mais, 
a borda do teu sofá
espojo-me no tapete
- peludo por douradas razões óbvias -
e sei
por fim
que amanhã te vou deixar.
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cuidarei de guardar estes cheiros e gestos.
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cuida de tudo o que te deixo.
de ti, amiga.
da tão precária vida.
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é mesmo por isso que amanhã parto:
para que a vida - a tua e a minha -
se cumpra.
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não voltarei.
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nem um abraço futuro te prometo
nem sequer uma carta, um mail
nenhum bilhete.
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entre amigas como nós
tais formalidades são dispensáveis.
que nós não somos umas amigas quaisquer:
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quem mais se pode dar ao luxo de me ter tido
durante 7 anos
como sua cadela?
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por isso nem fui aos gatos:
não merecias tal desobediência em véspera
de renascimento.
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vá, dorme bem.
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amanhã é outra vida.
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maria toscano, 27 nov/2008 (no dia em que a Bruna foi aprender a ser cadela livre)

Sem comentários:

já de abalada? ande cá! corra a cuartina de riscas e sente-se aí no mocho (no canapé? é melhor nã, nã seja que as preguetas lhe dêem cabo da roupa).
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faz calôrê nã? é tempo dele! no cântaro hai água fresquinha! e se quiser entalar alguma coisaaaa... a asada das azeitonas está chêinha, no cesto hai bobinha e papo-secos (com essa chôriça... ou com o quêjo de cabra, iiiisso!, nessa seladêra de esmalte!);
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chegue-se à mesa! - cuidado não lhe rebole a melancia para cima dos dedos do péi... assim... - entã nã se está melhórê?
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nã, nã, agora nã vai máinada! estou a guardar-me pra logo... ora na houvera de sêri! ah! já lhe dê o chêro! pois é: alhos e coentros e um nadica de vinagrê... vem aí do alguidar de barro... sim, sã nas carnes prá cêa.
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como nã sê o que o trouxe cá, forastêro, ‘stêja nesta sulmouradia como à da sua: pode ir mirando os links ("do monte"; "olivais..."; "deste planAlto..."; estas é que são...") os montes de que gostamos; pode ir vendo os posts por data ou esprêtando as nossas etiquêtas
("portados"); ou pode ir passando os olhos só pelos mais recentes.
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ah! repare lá que por estes lados nã temos o hábito de editarê todos os dias - não é um blogue-diário, 'tá a vêri?; pensámo-lo antes como sendo uma espécie de blogue-testemunho das vozes do Sul (o de cá e os Suis todos); mas temos ainda muito qu'arengar... vamos lá chegando, n'éi? devagarê, que o sol quêma!
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