da casa verde vejo o longe que é a verdade, o sítio da verdade, da vida plena, da vera idade.
.
da casa verde, com o verde ao fundo e um risco do rio pelo meio
vejo o monte de santa clara a velha
o mosteiro
ainda branco.
.
da casa verde sobe o vento
esquinado
e segue,
numa guinada frígida
para nordeste.
.
da casa verde
vem o sabor de torradas com compota
o cheiro do linho seco
da estopa
do gato amarelo
o cheiro do linho branco
o som dos trincos das vidraças e dos fechos das portadas
de madeira
defensoras do vento estéril na espera das aragens moldadas
pelas estações do meio, outonais.
.
da casa verde borbulham ainda os medos
que a ditadura havia de instigar
mas são medos baços
que
por ora
estragariam a frontaria desta casa.
.
fechemos a porta
voltas à chave, ferrolho e corrente.
.
da casa verde
quero guardar-lhe o tanger do sonho.
.
.
.
maria toscano
coimbra, na casa verde, a 31 agosto/2009
.