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do mistério da separação
da terra,
falo.
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desenhado em raias
pelas falésias acima
por serranias e serras
cravado como excrescência
lasca excesso vacilante
pelas baías mais privadas
escondidas
marcado a ferro e ervas
em enclaves ermos do sul
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da separação
da terra
— do pleno mistério
falo.
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no Texto antigo lá está feito o aviso.
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situada a metáfora no conflito
entre irmãos entre águas,
— situado o exemplo das águas —
assim foi contado ouvido e registado
para que ao longo dos tempos
imensos
a história fosse aprendida para que fosse evitada.
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no Texto antigo o aviso já foi feito
metáfora entre guerras entre espadas.
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no Antigo texto
onde não sobressaem as 7 saias
(nem saias)
das mulheres
desta terra que também
de nome é
também Nazaré.
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há destes lapsos no curso da História.
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herdam-se nomes de terras virtudes pessoas
feitos e defeitos
mas o sentido é só um
(potens, único
múltiplos pauper)
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por isso mesmo
para equliíbrio e por justeza
o milagre sério
o verdadeiro
o milagre sem metáfora, o pleno,
é o da separação da terra
de pé.
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chega o viajante o curioso
ou, tão-só, veraneante
de sol a sol
chega ao cimo de uma estrada de dois sentidos
— um, o que desce, por entre casas
fazendo curvas até ao sol.
outro, o que sobe, por entre casas,
cuidando de resguardar o sal.
ambos, dilectos ensinadores da cor do mar —
chega ao cimo dessa estrada
e à rotunda
que contorna para continuar a descer.
chega a meio e prossegue
na descida
chega.
até que a inclinação se deite a par do mar.
chega, esse que chegar,
ao piso raso a par do mar
a par e passo do areal do céu do sal
quer haja, ou não haja, sol.
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chega.
e, ao chegar sabe, inteiramente,
onde parar.
chega — quem chegar —
para parar.
ainda a tempo de se habitar
pelo mistério.
ainda a tempo da separação da terra.
de pé.
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chega.
desce.
pára.
a tempo
em tempo
(não há postal digital nem foto nipónica que o revele)
no tempo cadenciado
mensurado em contínua regra
desde o Tempo antigo.
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chega. desce. pára.
para contemplar
— nada habita aquele que desconhece
a contemplação —
e, ao contemplar,
vibra e adere ao Texto antigo
e, assim, habita o certo, o vero mistério
da separação da terra
acto de salvamento de barquinho homem e filhos
no sítio sagrado
por dentro do mar furioso e
pela mão de uma Nazarena mulher.
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maria toscano
Nazaré, Adega Oceano, 7 e 8 de Março/2010.
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(nota: nestes mesmos dias, aprendi com as sábias gentes da Nazaré que, "ao pedaço" de rocha separado da montanha, verticalmente situado sob "O Sítio", chamam : "Guilhim". Valeu a pena escrever este texto: acabei por aprender o nome da rocha sobre a qual escrevi)
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2 comentários:
belíssimo poema!
"- nada habita aquele que desconhece
a contemplação -", versos que entreram em mim
e "da separação da terra (...)
por dentro do mar furioso
pela mão de uma Nazarena mulher", perfeito final.
Maria Manuel: Obrigada pela visita! Bem Haja plas suas palavras! abraço, mt
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