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Dona Senhora, estranha e estrangeira
aqui poiso o meu gesto de consolo
devidamente como, Dona Senhora,
mereceis.
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venho aqui poisar o meu gesto de consolo
venho aqui depor o meu poema de gratidão.
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extemporâneo na geração, fora de época
nesta plena temporada dos carnavais
devidamente
como, Dona, como, Senhora,
devidamente, como mereceis.
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as sílabas limo com cuidado
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aprumo palavra após palavra
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lustro o fio insinuado por cada verso
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acolho seriamente o que se esboça
em palavra e espaço
em verso feito à mão
para, aconchegadamente,
o trazer ante vós
Dona Senhora, devidamente, ante vós.
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no centro do trapézio
baixo a voz
com que articulo
a mais antiga oração.
no centro do sagrado
espaço em tempo
do balbuciar reduzo o hábito veloz.
no centro deste centro
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magna mafra
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centro-me na minha forma limitada
para, assim, me unir agigantar
com as almas fundadoras
e aceder, em sílaba breve, ao templo são.
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Dona Senhora
em temporada dos carnavais
o brilho que possa dedicar-vos
vos toca
pois conhecestes
noutros tempos
as mesmas farsas,
mesma a violentação.
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Dona Senhora
nem estranha nem estrangeira
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Magna Dama
dos desencontros e da paixão
sã protectora entre aguilhões
e invernia
pelos corredores
onde sempre, impune, a maldade avance.
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sã protectora e
oráculo das amadas
aceita, por esta vez, esta palavra
aceita-a. possa eu ser tua falante
e possas ser, tu, Senhora Dama
atenta ouvinte atenta
a mediadora
a mediadora da roda-luz da visão.
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Dona Senhora
terrena como sagrada
profana como vestal anunciada
Dama e Rainha
pelos Poetas desejada
possas ser, tu,
Dona, Senhora e Dama
agraciada na solidária voz de todas nós
pela fala franca redonda aberta e branca
daquelas — porque amantes, porque mulheres
antes do tempo das farsas vis
já te eram irmãs.
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a ti, Bela
endereço o meu verso
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a ti, o verso, um sorriso
doce
e outro sorriso
meio nostálgico
triste.
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a ti, Bela
Rainha da resistência
do persistir intacta
entre inimigos por inveja
a ti, Bela Mulher,
este poema irmão.
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Dona Senhora
dos tempos das farsas vis
temos a lamentar
o insano imparável crescente
temos a testemunhar
a brutal vacuidade reinante
temos a denunciar
a escandalosa lei vigente,
melhor,
agora escorada
na regra-mor da maldição: ter coração.
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Dona Senhora
Dama
Rainha Bela
nossa natural irmã na redenção
nem estranha nem estrangeira
como nós
as da pele suor e sal guardadoras
como nós,
as do gesto da pausa e ritmo cicerones
como nós,
as afinadoras de tons e sibilos suaves
como nós,
as mestras da precisão de linha e linhos
como nós,
as provadoras de caldos molhos e fomes
como nós,
as amassadoras do dia com noite e medos
como nós,
as veteranas do berço do prazer e do abraço
como nós, vos chamo,
sobrevivente pelos corredores
por onde sempre a maldade avance
Magna Dama,
como nós,
viventes de amores e paixões.
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a ti, Bela,
endereço esta palavra
sustida, limada, fiada, lustrada
ao colo aconchegada até teu consentimento.
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a ti, Bela,
Dona e Rainha
Senhora e Dama
reitero requeiro e invoco
— por nossa fala branca
redonda
aberta e franca —
tua presença iluminada
lúcida de amor
(ante o insano imparável crescente).
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a ti, Bela,
Dona e Rainha
Senhora e Dama
reitero requeiro e invoco
— por nossa fala branca
redonda
aberta e franca —
teu abraço doce
sereno
acarinhante
(ante a brutal vacuidade reinante).
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a ti, Bela,
Dona e Rainha
Senhora e Dama
reitero requeiro e invoco
— por nossa fala branca
redonda
aberta e franca —
tua ordem plena
rasgando a terra ao meio
e, aí, escorada,
possas banir da superfície
os vigentes actos farsantes sem coração
— devidamente, como mereceis —
e guardá-los no submundo junto a vós
em lento e suave trabalho de reciclagem
segundo a regra-mor da redenção:
sã protectora
oráculo dos que amam
Dona Senhora Dama
nossa Rainha Inês.
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maria toscano
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Restaurante-Marisqueira “Ti Matilde”,
Mafra, 15 Fevereiro/2010.
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todos os direitos reservados a maria toscano e IV Bienal de Poesia de Silves 2010.
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