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Baseado no trabalho disponível em http://sulmoura.blogspot.pt/.

terça-feira, novembro 02, 2010

folha de um diário

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Querida Bruna:
depois de muito
contar recontar repisar
a minha impotência
para lutar contra a surda avareza
dos que nos obrigaram a afastarmo-nos
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depois de — passados 2 anos —
te recordar revisitar brincar
e mimar
saudosa
à distância
na impotente distância
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depois de
— passados estes
dois
anos —
te reconhecer em cada cão que parava a cheirar-me
botas sapatos casacos
cada cão que
meloso
me pedia uma festa
um mimo
uma atenção
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depois de todos estes
dois
anos
de sublime
acção
eis que me começaste a aparecer
nos sonhos.
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não estranhei
convicta de que a razão
quadrada
me explicava, assim,
a emergência
dos recônditos e la
tentes sentimentos
saudosos
— de saudosa impotência.
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Erro meu, impotente razão.
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Foi à chegada ao centro comercial
— e só aí —
que percebi.
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Eu explico melhor:
entrei
e dei de caras com as duas queridas amigas
que te ajudaram a melhorar de vida.
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cumprimentámo-nos
— nada de novo
nem de estranho —
até que eu disse que era bem curioso encontrá-las
quando andava a pensar ir visitar-te:
"gostava de ir ver a Bruna", disse.
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parca razão
mente impotente
distraída do essencial.
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"a Bruna? deixe lá! há-de vir a ter outra cadelinha!"
ao que respondi, repetindo:
"a sério: queria mesmo, estou decidida
a ir vê-la."
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silêncio.
sábio.
(que eu não escutei)
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"a Bruna? ... maasss.... a Bruna morreu!"
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e continuámos a conversa, amigavelmente
— eu, grata, gratíssima às almas que te acolheram.
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Querida Bruna.
agora que (talvez) um ataque cardíaco te fez parar
a batida ao teu coração
puro e inocente
cumpre-me
dizer:
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Obrigada, Mãe Natureza,
por cuidares, agora, da Bruna.
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Obrigada, Bruna,
por me teres ensinado tanto
da tua
Mãe
Natureza.
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maria toscano
Coimbra, Parque Verde, 1 Novembro / 2010
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já de abalada? ande cá! corra a cuartina de riscas e sente-se aí no mocho (no canapé? é melhor nã, nã seja que as preguetas lhe dêem cabo da roupa).
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faz calôrê nã? é tempo dele! no cântaro hai água fresquinha! e se quiser entalar alguma coisaaaa... a asada das azeitonas está chêinha, no cesto hai bobinha e papo-secos (com essa chôriça... ou com o quêjo de cabra, iiiisso!, nessa seladêra de esmalte!);
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chegue-se à mesa! - cuidado não lhe rebole a melancia para cima dos dedos do péi... assim... - entã nã se está melhórê?
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nã, nã, agora nã vai máinada! estou a guardar-me pra logo... ora na houvera de sêri! ah! já lhe dê o chêro! pois é: alhos e coentros e um nadica de vinagrê... vem aí do alguidar de barro... sim, sã nas carnes prá cêa.
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como nã sê o que o trouxe cá, forastêro, ‘stêja nesta sulmouradia como à da sua: pode ir mirando os links ("do monte"; "olivais..."; "deste planAlto..."; estas é que são...") os montes de que gostamos; pode ir vendo os posts por data ou esprêtando as nossas etiquêtas
("portados"); ou pode ir passando os olhos só pelos mais recentes.
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ah! repare lá que por estes lados nã temos o hábito de editarê todos os dias - não é um blogue-diário, 'tá a vêri?; pensámo-lo antes como sendo uma espécie de blogue-testemunho das vozes do Sul (o de cá e os Suis todos); mas temos ainda muito qu'arengar... vamos lá chegando, n'éi? devagarê, que o sol quêma!
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