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sábado, fevereiro 26, 2011

"naquele tempo"

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naquele tempo
as meninas tinham tranças
e canudos
e sapatinhos de verniz
brancos, vermelhos ou pretos
com presilha.
naquele tempo
a missa do galo fazia o intervalo
entre o jantar e a ceia
de Natal.
naquele tempo
o presépio era tarefa
de todos
com idas ao musgo
subidas a bancos
empoleirados
para pendurar nas paredes das casas
brilhos
sonhos
asas.
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naquele tempo
os sabores eram activos
com vinagres canela
azeite
cebola alho
salsa oregãos cravinho
e coentros
os sabores. eram nativos.
naquele tempo
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os embrulhos escondiam-se
todos, sempre, nos mesmos sítios das surpresas
e havia sempre sempre surpresas
porque a vida era feita de compromissos
cumpridos
mesmo nas queridas prendinhas
de todos.
naquele tempo
o Menino só nascia
de madrugada
e o Pai Natal era um velhinho
simpático
que só falava inglês e não bebia chá.
naquele tempo
o bacalhau demolhava-se
em alguidares de barro
ao longo de vários dias
várias noites. mãos.
naquele tempo
havia mãe e pai avó e avô irmãs
primos e primas
naquele tempo
havia,
sobretudo,
fé.
e, por isso, havia tempo
muito tempo para preparar e receber
o Natal.
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como é bom que assim tenha sido.
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naquele tempo.
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hoje, ele ainda vive
de cada vez que a bonomia
se associa ao nosso
sentir Natal.
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maria toscano
Coimbra, Café Santa Cruz, 18 Dez/2010.
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Sem comentários:

já de abalada? ande cá! corra a cuartina de riscas e sente-se aí no mocho (no canapé? é melhor nã, nã seja que as preguetas lhe dêem cabo da roupa).
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faz calôrê nã? é tempo dele! no cântaro hai água fresquinha! e se quiser entalar alguma coisaaaa... a asada das azeitonas está chêinha, no cesto hai bobinha e papo-secos (com essa chôriça... ou com o quêjo de cabra, iiiisso!, nessa seladêra de esmalte!);
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chegue-se à mesa! - cuidado não lhe rebole a melancia para cima dos dedos do péi... assim... - entã nã se está melhórê?
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nã, nã, agora nã vai máinada! estou a guardar-me pra logo... ora na houvera de sêri! ah! já lhe dê o chêro! pois é: alhos e coentros e um nadica de vinagrê... vem aí do alguidar de barro... sim, sã nas carnes prá cêa.
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como nã sê o que o trouxe cá, forastêro, ‘stêja nesta sulmouradia como à da sua: pode ir mirando os links ("do monte"; "olivais..."; "deste planAlto..."; estas é que são...") os montes de que gostamos; pode ir vendo os posts por data ou esprêtando as nossas etiquêtas
("portados"); ou pode ir passando os olhos só pelos mais recentes.
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ah! repare lá que por estes lados nã temos o hábito de editarê todos os dias - não é um blogue-diário, 'tá a vêri?; pensámo-lo antes como sendo uma espécie de blogue-testemunho das vozes do Sul (o de cá e os Suis todos); mas temos ainda muito qu'arengar... vamos lá chegando, n'éi? devagarê, que o sol quêma!
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