naquele tempo
as meninas tinham tranças
e canudos
e sapatinhos de verniz
brancos, vermelhos ou pretos
com presilha.
naquele tempo
a missa do galo fazia o intervalo
entre o jantar e a ceia
de Natal.
naquele tempo
o presépio era tarefa
de todos
com idas ao musgo
subidas a bancos
empoleirados
para pendurar nas paredes das casas
brilhos
sonhos
asas.
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naquele tempo
os sabores eram activos
com vinagres canela
azeite
cebola alho
salsa oregãos cravinho
e coentros
os sabores. eram nativos.
naquele tempo
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os embrulhos escondiam-se
todos, sempre, nos mesmos sítios das surpresas
e havia sempre sempre surpresas
porque a vida era feita de compromissos
cumpridos
mesmo nas queridas prendinhas
de todos.
naquele tempo
o Menino só nascia
de madrugada
e o Pai Natal era um velhinho
simpático
que só falava inglês e não bebia chá.
naquele tempo
o bacalhau demolhava-se
em alguidares de barro
ao longo de vários dias
várias noites. mãos.
naquele tempo
havia mãe e pai avó e avô irmãs
primos e primas
naquele tempo
havia,
sobretudo,
fé.
e, por isso, havia tempo
muito tempo para preparar e receber
o Natal.
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como é bom que assim tenha sido.
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naquele tempo.
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hoje, ele ainda vive
de cada vez que a bonomia
se associa ao nosso
sentir Natal.
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maria toscano
Coimbra, Café Santa Cruz, 18 Dez/2010.
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