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no meu coração de andorinha
fizeste tu, ó árvore,
o ninho.
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pousaste devagar de
mansinho
com a polpa dos frutos
que guardas
entre longos ramos
elementais.
antes, roçaste a minha
gravata
como que a pedir licença
de passagem
logo voaste até à terra e esperaste
pela hora dos musgos e pirilampos.
uma vez confundidos com a geada
os teus íntimos líquidos amorosos,
refrescada
ganhaste coragem para erguer
ramos ao alto
árvore ao alto
(pode mesmo cantar-se: )
‘unidos como os dedos da mão/
havemos de chegar ao fim da estrada’)
— pode cantar-se assim teu desejo do universal.
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há muito vinhas sonhando
com a viagem.
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olhando para o ocidente
enfeitiçada
eras a fio, ondeaste com o mar.
rodando-te para sul
assobiaste / com as areias
morenas desertas mouras
durante imensos tempos
com as areias
foste amornando o teu ser
modo de ser.
com os lamentos encantadores
do leste
limaste os requebros afinaste
todas as cordas antes verdes
as cordas, agora, melodiosas.
fadadas
também as folhas te cingiram
ao fenomenal ritmo flamenco.
por fim, a índiga neve
enfrentaste / ao norte
de onde aprendeste
refracções / da luz em cores.
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no meu coração de andorinha
fizeste, ó árvore,
um poiso maravilhoso para te aninhar.
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garantidamente, pois, seguimos
eternos viajantes seres
no voo
de ser amantes.
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maria toscano
em Coimbra, nas ‘Galerias Santa Clara’
a 14 Julho/2011
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