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quarta-feira, maio 09, 2012

correios — 25. ou 'promessa'

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espera-me à chegada do autocarro 
como fizeste daquela, da outra vez.
prometo levar pouca bagagem: 
só um vestidito e sapatos rasos
pois quero andar, leve, sempre a teu lado
(ponho uns de salto na mala
pró caso de para o que for preciso)
manterei o cabelo cor de cereja
para facilmente me situares,
antes, prometo descansar os olhos 
assim vejo-te logo logo te verei.
prometo dar descanso à mão
—  escreveremos os dois ao vivo em duo 
     e hei-de embalar-te ciosa,
     ciosa ternurenta e desperta.
prometo não mudar de humor de zelo
nem de amor nem de perfume
para que não apenas me intuas
e desde longe me sintas a chegar. 
prometo mais: tornar-me silenciosa
se a tua voz cantar e sibilar, 
ou ser-te a sonata a serenata
caso o teu silêncio me afine a alma e a
minha voz te leve à brisa do mar.
prometo criar, para ti, uma gazela
regar uma roseira, ceifar o pão
sulcar regueiros nas terras do Sul
pisar uvas, varejar a oliveira
ser o azeite e o vinho sangrado
com suor com tempo, honrado
a cal cintilante, o portado / a telha o sobrado e o beiral
prometo devir casa e árvore
barca lagoa mesmo mulher ou asa
prometo lavar os olhos no teu beijo
e pousar-me, a secar, em teu colo
prometo inventar um calendário / um mar e um sonho
femininos, todos
prometo oferecer-me num livro em branco
aninhado nos seios intensos nus,
e no largo ventre virgem que me guarda.
prometo, amor daquela de outra vez,
que os ventos e as tempestades da Tocha hão-de calar-se respeitosamente, sim
mas, sobretudo invejosas e estupefactas
por só tu me desviares a atenção deles.
prometo que — repara bem,
esta aposta fi-la antes de nascer —
o mar se enrolará em ondas doces,
gaivotas moluscos e algas
vão aplanar a magia das dunas
onde se firmará o paraíso
existente desde que o desejamos.
prometo, ainda, lacrimejar menos / mais comedida sorver tua tristeza
até já só restar a nostalgia
da promessa que trago neste poema.
prometo isto tudo se me esperares, amor,
à hora do autocarro, / ao sol.
até lá, promete-me tu, moreno amor:
suave farás teu ninho de amoras
cerejas abraços e outras flores.

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maria toscano.
praia da Tocha. a ver o mar. 8 Maio / 2012.
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Sem comentários:

já de abalada? ande cá! corra a cuartina de riscas e sente-se aí no mocho (no canapé? é melhor nã, nã seja que as preguetas lhe dêem cabo da roupa).
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faz calôrê nã? é tempo dele! no cântaro hai água fresquinha! e se quiser entalar alguma coisaaaa... a asada das azeitonas está chêinha, no cesto hai bobinha e papo-secos (com essa chôriça... ou com o quêjo de cabra, iiiisso!, nessa seladêra de esmalte!);
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chegue-se à mesa! - cuidado não lhe rebole a melancia para cima dos dedos do péi... assim... - entã nã se está melhórê?
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nã, nã, agora nã vai máinada! estou a guardar-me pra logo... ora na houvera de sêri! ah! já lhe dê o chêro! pois é: alhos e coentros e um nadica de vinagrê... vem aí do alguidar de barro... sim, sã nas carnes prá cêa.
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como nã sê o que o trouxe cá, forastêro, ‘stêja nesta sulmouradia como à da sua: pode ir mirando os links ("do monte"; "olivais..."; "deste planAlto..."; estas é que são...") os montes de que gostamos; pode ir vendo os posts por data ou esprêtando as nossas etiquêtas
("portados"); ou pode ir passando os olhos só pelos mais recentes.
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ah! repare lá que por estes lados nã temos o hábito de editarê todos os dias - não é um blogue-diário, 'tá a vêri?; pensámo-lo antes como sendo uma espécie de blogue-testemunho das vozes do Sul (o de cá e os Suis todos); mas temos ainda muito qu'arengar... vamos lá chegando, n'éi? devagarê, que o sol quêma!
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