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com vénia, mutatis mutandis, a O problema da habitação
de Ruy Belo
andes como andares
vás por onde fores
caminhes o que caminhares
sempre, à chegada: ela.
é da vital mecânica dos viventes a surpresa o encantamento.
os prédios, frios de tão altos,
anseiam pelo quente do sol.
os prédios, sujos, não sabem como lidar com
as meninas rosadas de calções
os meninos de gorro e ténis
as mulheres de avental
os homens de mãos de óleo
os jovens desactivados por play station e televisão.
esse é o motivo da degradação urbana.
o mal-estar
por vezes activado pela timidez dos prédios.
nas caves
por mais retoques ou gestos evasivos pelas paredes
demora-se mais a ver o dia.
nas caves
mesmo nas respeitosamente habitadas
até às entranhas por estranhos
cuida-se mal da melancolia.
e até a melancolia sofre e quer basar dali.
no fim do trilho, passado o semáforo
sempre ela, à chegada,
disposta a receber-te por nunca te ter abandonado
paciente/ incansável/ resistente
andes por onde andares
sejas lá como fores
ela sempre te espera
a latente
quando nos falta a presença
quando se trai a consciência por esquecimento.
à chegada, sempre te espera
a que dá pelo apelido de magia
mas podes chamá-la pelo nome próprio de vida.
agora que sabes do segredo da imanência
diz-me lá: ainda demoras?
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maria toscano.
praia da Tocha. 7 Maio /2012.
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