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quarta-feira, janeiro 30, 2013

a palavra que adivinhas

"Não sou a destruição cega nem a
esperança impossível.
Sou alguém que espera ser aberto por
uma palavra."
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António Ramos Rosa.
Uma voz na Pedra.
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1.

a palavra que me abre paira, solta.
airosa se insinua e aquieta.
airosa me inquieta e alicia.
volta. entre ondas de sílabas volta a pairar
revolta espaços linhas esperas
briosa amante dos silêncios
ciosa bacante das metáforas
rasa-me de incêndios livres ciladas
salva-me na sombra, salva
a palavra que me abre e adivnhas.
vem numa correnteza de sussurros
guiada, é, por entre doces segredos
arrepiando gestos de consolação
fundindo a pele com a emoção
para estranheza dos ruídos vigentes
nos mercados de vísceras maquinismos gentes.
vem nessa correnteza de rupturas
suaves subtis e pungentes
arrepiando a pele e a emoção
ao roçar de nem se sabe o quê
ao soar de nem se sabe como
ao estar de nem se sabe onde.
ah a palavra que me abre, solta
solta-se e paira etérea. é vibração
fundindo a minha pele funda e desperta
com a mais antiga emoção que nos liga e acertas.
tu, que da palavra que me abre tudo adivinhas
tudo alimentas se a matéria é incriada
tudo adiantas se o tempo é inesperado
tudo acalentas se o espaço é alado
ah a palavra que me abre e, etérea, vibra
solta, pairando entre nossas estranhas peles
e a nossa antiga emoção única, funda,
essa emoção ou palavra que me arde
de cada vez que a fazes nas entrelinhas
no quê no como e no onde divinais.
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maria toscano. @ inédito.
Coimbra, Pastelaria Vénus, 30 Janeiro/ 2013.
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2.

a palavra que me abre, inaudível
sobrevoa a semente da fala
inebria o fermento da voz
incansável, alcança o vento morno
o sangue, incansável, a regar sabedorias
a saciar de amor, o húmus da vida.
a palavra que me abre recorta os dias
distendendo os tempos do antes e do depois
num maravilhoso agora liso quântico,
múltiplo de enlaces vivências e emoções.
ao distender os tempos do antes e do depois
a palavra que me abre resguarda o intemporal
ser-se agora neste momento eterno
neste eterno momento nupcial.
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3.

aqui e agora me nasço e dou.

aqui  e agora acontece a profecia
e se tece agora e neste enquanto
o imenso durante sem ter termo
o instante do terno eterno, sem retorno
pois se é eterno nunca se perde
nunca se regressa do eterno estar
sendo, esse, o estar do terno ser.

a palavra que me abre aqui se diz.

a palavra que me abre agora vibra
pelos enlaces e vivências do que quis
por entre os nós e os desencontros que escolhi
para, agora e aqui, acontecer a fala
no concretizar da profecia imensa
enorme ressoar, inconstante adejar
asa esvoaçante do coração, morada
aqui e agora, da palavra que me abre.
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4.

nesta passagem sôfrega pelos desvios da vida
vão-se abrindo os caminhos, dão-se pequenos milagres
incrustados nos milagres incomensuráveis
onde repousamos desta viagem.
nesta irregular passagem de corpo e ânsias/
baças lantejoulas e pérolas raras
sufocamos com vapores fumos e dores
sufocamos no próprio respirar das máscaras.

é dos pequenos milagres a palavra que me abre.
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5.

a palavra que me abre seduz o amor.

a palavra que me abre devém vida.

ela mesma é partícula do amor
movimento iridescente, o que irradia.

é desconhecida e rara, tal palavra.

novidade insana, veloz alegria
suave inspiração, arrepio  táctil 
cordão de esperanças consagradas
roda de alegrias inesperadas
a palavra que me abre emana do amor
que é o que abre sustenta e sacia.
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maria toscano
Coimba, Pastelaria Vénus, 12 Fevereiro/ 2013.
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Sem comentários:

já de abalada? ande cá! corra a cuartina de riscas e sente-se aí no mocho (no canapé? é melhor nã, nã seja que as preguetas lhe dêem cabo da roupa).
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faz calôrê nã? é tempo dele! no cântaro hai água fresquinha! e se quiser entalar alguma coisaaaa... a asada das azeitonas está chêinha, no cesto hai bobinha e papo-secos (com essa chôriça... ou com o quêjo de cabra, iiiisso!, nessa seladêra de esmalte!);
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chegue-se à mesa! - cuidado não lhe rebole a melancia para cima dos dedos do péi... assim... - entã nã se está melhórê?
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nã, nã, agora nã vai máinada! estou a guardar-me pra logo... ora na houvera de sêri! ah! já lhe dê o chêro! pois é: alhos e coentros e um nadica de vinagrê... vem aí do alguidar de barro... sim, sã nas carnes prá cêa.
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como nã sê o que o trouxe cá, forastêro, ‘stêja nesta sulmouradia como à da sua: pode ir mirando os links ("do monte"; "olivais..."; "deste planAlto..."; estas é que são...") os montes de que gostamos; pode ir vendo os posts por data ou esprêtando as nossas etiquêtas
("portados"); ou pode ir passando os olhos só pelos mais recentes.
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ah! repare lá que por estes lados nã temos o hábito de editarê todos os dias - não é um blogue-diário, 'tá a vêri?; pensámo-lo antes como sendo uma espécie de blogue-testemunho das vozes do Sul (o de cá e os Suis todos); mas temos ainda muito qu'arengar... vamos lá chegando, n'éi? devagarê, que o sol quêma!
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