"Não sou a destruição cega nem a
esperança impossível.
Sou alguém que espera ser aberto por
uma palavra."
.
António Ramos Rosa.
Uma voz na Pedra.
.1.
a palavra que me abre paira, solta.
airosa se insinua e aquieta.
airosa me inquieta e alicia.
volta. entre ondas de sílabas volta a pairar
revolta espaços linhas esperas
briosa amante dos silêncios
ciosa bacante das metáforas
rasa-me de incêndios livres ciladas
salva-me na sombra, salva
a palavra que me abre e adivnhas.
vem numa correnteza de sussurros
guiada, é, por entre doces segredos
arrepiando gestos de consolação
fundindo a pele com a emoção
para estranheza dos ruídos vigentes
nos mercados de vísceras maquinismos gentes.
vem nessa correnteza de rupturas
suaves subtis e pungentes
arrepiando a pele e a emoção
ao roçar de nem se sabe o quê
ao soar de nem se sabe como
ao estar de nem se sabe onde.
ah a palavra que me abre, solta
solta-se e paira etérea. é vibração
fundindo a minha pele funda e desperta
com a mais antiga emoção que nos liga e acertas.
tu, que da palavra que me abre tudo adivinhas
tudo alimentas se a matéria é incriada
tudo adiantas se o tempo é inesperado
tudo acalentas se o espaço é alado
ah a palavra que me abre e, etérea, vibra
solta, pairando entre nossas estranhas peles
e a nossa antiga emoção única, funda,
essa emoção ou palavra que me arde
de cada vez que a fazes nas entrelinhas
no quê no como e no onde divinais.
.
maria toscano. @ inédito.
Coimbra, Pastelaria Vénus, 30 Janeiro/ 2013.
.
2.
a palavra que me abre, inaudível
sobrevoa a semente da fala
inebria o fermento da voz
incansável, alcança o vento morno
o sangue, incansável, a regar sabedorias
a saciar de amor, o húmus da vida.
a palavra que me abre recorta os dias
distendendo os tempos do antes e do depois
num maravilhoso agora liso quântico,
múltiplo de enlaces vivências e emoções.
ao distender os tempos do antes e do
depois
a palavra que me abre resguarda o
intemporal
ser-se agora neste momento eterno
neste eterno momento nupcial.
.
3.
aqui e agora me nasço e dou.
aqui
e agora acontece a profecia
e se tece agora e neste enquanto
o imenso durante sem ter termo
o instante do terno eterno, sem retorno
pois se é eterno nunca se perde
nunca se regressa do eterno estar
sendo, esse, o estar do terno ser.
a palavra que me abre aqui se diz.
a palavra que me abre agora vibra
pelos enlaces e vivências do que quis
por entre os nós e os desencontros que
escolhi
para, agora e aqui, acontecer a fala
no concretizar da profecia imensa
enorme ressoar, inconstante adejar
asa esvoaçante do coração, morada
aqui e agora, da palavra que me abre.
.
4.
nesta passagem sôfrega pelos desvios da
vida
vão-se abrindo os caminhos, dão-se
pequenos milagres
incrustados nos milagres incomensuráveis
onde repousamos desta viagem.
nesta irregular passagem de corpo e
ânsias/
baças lantejoulas e pérolas raras
sufocamos com vapores fumos e dores
sufocamos no próprio respirar das
máscaras.
é dos pequenos milagres a palavra que me
abre.
.
5.
a palavra que me abre seduz o amor.
a palavra que me abre devém vida.
ela mesma é partícula do amor
movimento iridescente, o que irradia.
é desconhecida e rara, tal palavra.
novidade insana, veloz alegria
suave inspiração, arrepio táctil
cordão de esperanças consagradas
roda de alegrias inesperadas
a palavra que me abre emana do amor
que é o que abre sustenta e sacia.
.
maria toscano
Coimba,
Pastelaria Vénus, 12 Fevereiro/ 2013.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário