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quarta-feira, dezembro 21, 2005

Ceia de Natal

.

.está pronta a lanterna

.a lenha e o sisal

.estão certos na casa

.a agulha e o dedal

.o ancinho repousa

.ao lado das botas

.a manta de lã

.espreguiça o tear

.e o rabo da lua não pára de espreitar.

.

.

. lisos os lençóis,

.os sonhos e o caldo

.já devem estar prestes.

.deleitada, a tenaz

.namora o picão

.os gatos, no chão,

.são garras da paz

.lá fora o estendal

.esbraceja e, a nado,

.a tua camisa

.afoga marés

.(redemoinhados

.soluços da fé).

.

.

. a saudade, ao lume

.na trempe de três,

.aloura a beleza

.com a nostalgia,

.o ramo de salsa,

.o alho a cebola

.e o ovo prà capa do bacalhau.

.as migas receiam

.ter má companhia

.e aconchegam o cabo

.da colher de pau.

.na borda de renda

.da rara toalha

.um anjo entrelaça

.om um tal bébé

.ilho de Yavé.

.arejam-se os doces

.assim que se entra

.no ar salpicado

.do azeite fritado.

.

.

.Abraços de ano

.despenteiam a arte

.da cabeleireira

.'inda dessa tarde

.e dão em segredo

.bem a dar nas vistas

.gigantes embrulhos

.pra empilhar no cimo

.do guarda-vestidos

.que só são abertos

.quando o alarido

.for de outro barulho.

.

.

.de perfil, sentadas

.à roda da mesa

.ficam as cadeiras

.arrojam-se assentos

.feitos com inventos

.e há almofadas

.que dão um aumento

.aos que mais pequenos.

.resvalam os vinhos

.pró ventre das taças

.grelam-se as jarras

.de flores bem dignas

.e a cada terrina

.compete o suporte

.com flores de azevinho.

.em fatias e nacos

.há votos de Bem

.posto em redondelas

.ricas, não singelas

.como as de Belém.

.

.

. cada guardanapo

.é um descarado:

.apalpa a toalha

.roça pelas travessas

.encosta-se a facas,

.a malgas, colheres,

.peitos das mulheres,

.às bordas dos pratos

.rola e brota em borlas

.e enrola-se aos laços

.com velas ardidas

.mas só no começo.

.

.

.crepitam as flamas

.na surpresa intensa

.dos miúdos da casa

.os outros disfarçam

.e acordam guitarras

.ou roem umas passas

.ou então esfumaçam

.o imberbe cigarro

.na casa de banho.

.

.

.à volta do fogo

.conta-se o que é ganho

.e o tudo risonho

.até que o sinal

.muda o andamento:

.mergulha-se a concha,

.abrir amplas alas

.da cozinha à sala,

.conferir os sítios

.da mesa ladear,

.(alvitra-se a quem

.vai calhar a fava

. - é sempre à menina

. gulosa da sala),

.suster no decote

.todo o descarado,

.e, uma noite no ano,

.a família ser

.hora consoada.

.

.

. maria toscano. portugalito. Palimage Editores, 2002.

http://www.palimage.pt/livro.php?livroid=pp25

Sem comentários:

já de abalada? ande cá! corra a cuartina de riscas e sente-se aí no mocho (no canapé? é melhor nã, nã seja que as preguetas lhe dêem cabo da roupa).
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faz calôrê nã? é tempo dele! no cântaro hai água fresquinha! e se quiser entalar alguma coisaaaa... a asada das azeitonas está chêinha, no cesto hai bobinha e papo-secos (com essa chôriça... ou com o quêjo de cabra, iiiisso!, nessa seladêra de esmalte!);
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chegue-se à mesa! - cuidado não lhe rebole a melancia para cima dos dedos do péi... assim... - entã nã se está melhórê?
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nã, nã, agora nã vai máinada! estou a guardar-me pra logo... ora na houvera de sêri! ah! já lhe dê o chêro! pois é: alhos e coentros e um nadica de vinagrê... vem aí do alguidar de barro... sim, sã nas carnes prá cêa.
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como nã sê o que o trouxe cá, forastêro, ‘stêja nesta sulmouradia como à da sua: pode ir mirando os links ("do monte"; "olivais..."; "deste planAlto..."; estas é que são...") os montes de que gostamos; pode ir vendo os posts por data ou esprêtando as nossas etiquêtas
("portados"); ou pode ir passando os olhos só pelos mais recentes.
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ah! repare lá que por estes lados nã temos o hábito de editarê todos os dias - não é um blogue-diário, 'tá a vêri?; pensámo-lo antes como sendo uma espécie de blogue-testemunho das vozes do Sul (o de cá e os Suis todos); mas temos ainda muito qu'arengar... vamos lá chegando, n'éi? devagarê, que o sol quêma!
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