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.está pronta a lanterna
.a lenha e o sisal
.estão certos na casa
.a agulha e o dedal
.o ancinho repousa
.ao lado das botas
.a manta de lã
.espreguiça o tear
.e o rabo da lua não pára de espreitar.
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. lisos os lençóis,
.os sonhos e o caldo
.já devem estar prestes.
.deleitada, a tenaz
.namora o picão
.os gatos, no chão,
.são garras da paz
.lá fora o estendal
.esbraceja e, a nado,
.a tua camisa
.afoga marés
.(redemoinhados
.soluços da fé).
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. a saudade, ao lume
.na trempe de três,
.aloura a beleza
.com a nostalgia,
.o ramo de salsa,
.o alho a cebola
.e o ovo prà capa do bacalhau.
.as migas receiam
.ter má companhia
.e aconchegam o cabo
.da colher de pau.
.na borda de renda
.da rara toalha
.um anjo entrelaça
.om um tal bébé
.ilho de Yavé.
.arejam-se os doces
.assim que se entra
.no ar salpicado
.do azeite fritado.
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.Abraços de ano
.despenteiam a arte
.da cabeleireira
.'inda dessa tarde
.e dão em segredo
.bem a dar nas vistas
.gigantes embrulhos
.pra empilhar no cimo
.do guarda-vestidos
.que só são abertos
.quando o alarido
.for de outro barulho.
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.de perfil, sentadas
.à roda da mesa
.ficam as cadeiras
.arrojam-se assentos
.feitos com inventos
.e há almofadas
.que dão um aumento
.aos que mais pequenos.
.resvalam os vinhos
.pró ventre das taças
.grelam-se as jarras
.de flores bem dignas
.e a cada terrina
.compete o suporte
.com flores de azevinho.
.em fatias e nacos
.há votos de Bem
.posto em redondelas
.ricas, não singelas
.como as de Belém.
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. cada guardanapo
.é um descarado:
.apalpa a toalha
.roça pelas travessas
.encosta-se a facas,
.a malgas, colheres,
.peitos das mulheres,
.às bordas dos pratos
.rola e brota em borlas
.e enrola-se aos laços
.com velas ardidas
.mas só no começo.
.
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.crepitam as flamas
.na surpresa intensa
.dos miúdos da casa
.os outros disfarçam
.e acordam guitarras
.ou roem umas passas
.ou então esfumaçam
.o imberbe cigarro
.na casa de banho.
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.à volta do fogo
.conta-se o que é ganho
.e o tudo risonho
.até que o sinal
.muda o andamento:
.mergulha-se a concha,
.abrir amplas alas
.da cozinha à sala,
.conferir os sítios
.da mesa ladear,
.(alvitra-se a quem
.vai calhar a fava
. - é sempre à menina
. gulosa da sala),
.suster no decote
.todo o descarado,
.e, uma noite no ano,
.a família ser
.hora consoada.
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. maria toscano. portugalito. Palimage Editores, 2002.
http://www.palimage.pt/livro.php?livroid=pp25
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