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quarta-feira, dezembro 21, 2005

Queixa das almas jovens censuradas

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Dão-nos um lírio e um canivete

.E uma alma para ir à escola

.E um letreiro que promete

.Raízes, hastes e corola.

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.Dão-nos um mapa imaginário

.Que tem a forma duma cidade

.Mais um relógio e um calendário

.Onde não vem a nossa idade.

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.Dão-nos a honra de manequim

.Para dar corda à nossa ausência.

.Dão-nos o prémio de ser assim

.Sem pecado e sem inocência.

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.Dão-nos um barco e um chapéu

.Para tirarmos o retrato.

.Dão-nos bilhetes para o céu

. Levado à cena num teatro.

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.Penteiam-nos os crânios ermos

.Com as cabeleiras dos avós

.Para jamais nos parecermos

.Connosco quando estamos sós.

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.Dão-nos um bolo que é a história

.Da nossa história sem enredo

.E não nos soa na memória

.Outra palavra para o medo.

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.Temos fantasmas tão educados

.Que adormecemos no seu ombro

.Sonos vazios, despovoados

.De personagens do assombro.

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.Dão-nos a capa do evangelho

.E um pacote de tabaco.

.Dão-nos um pente e um espelho

.Para pentearmos um macaco.

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.Dão-nos um cravo preso à cabeça

.E uma cabeça presa à cintura

.Para que o corpo não pareça

.A forma da alma que o procura.

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.Dão-nos um esquife feito de ferro

.Com embutidos de diamante

.Para organizar já o enterro

.Do nosso corpo mais adiante.

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.Dão-nos um nome e um jornal,

.Um avião e um violino.

.Mas não nos dão o animal

.Que espeta os cornos no destino.

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.Dão-nos marujos de papelão

.Com carimbo no passaporte.

.Por isso a nossa dimensão

.Não é a vida. Nem é a morte.

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. Natália Correia. Poesia Completa. Publicações Dom Quixote, 1999

Sem comentários:

já de abalada? ande cá! corra a cuartina de riscas e sente-se aí no mocho (no canapé? é melhor nã, nã seja que as preguetas lhe dêem cabo da roupa).
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faz calôrê nã? é tempo dele! no cântaro hai água fresquinha! e se quiser entalar alguma coisaaaa... a asada das azeitonas está chêinha, no cesto hai bobinha e papo-secos (com essa chôriça... ou com o quêjo de cabra, iiiisso!, nessa seladêra de esmalte!);
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chegue-se à mesa! - cuidado não lhe rebole a melancia para cima dos dedos do péi... assim... - entã nã se está melhórê?
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nã, nã, agora nã vai máinada! estou a guardar-me pra logo... ora na houvera de sêri! ah! já lhe dê o chêro! pois é: alhos e coentros e um nadica de vinagrê... vem aí do alguidar de barro... sim, sã nas carnes prá cêa.
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como nã sê o que o trouxe cá, forastêro, ‘stêja nesta sulmouradia como à da sua: pode ir mirando os links ("do monte"; "olivais..."; "deste planAlto..."; estas é que são...") os montes de que gostamos; pode ir vendo os posts por data ou esprêtando as nossas etiquêtas
("portados"); ou pode ir passando os olhos só pelos mais recentes.
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ah! repare lá que por estes lados nã temos o hábito de editarê todos os dias - não é um blogue-diário, 'tá a vêri?; pensámo-lo antes como sendo uma espécie de blogue-testemunho das vozes do Sul (o de cá e os Suis todos); mas temos ainda muito qu'arengar... vamos lá chegando, n'éi? devagarê, que o sol quêma!
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