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sábado, dezembro 03, 2005

Fernando Pessoa (1888-1935)
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Obra Vasta
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“(…) floresta de ensaios e teses que nunca deixaram de acompanhar a vida póstuma de Pessoa e de seus 72 heterônimos – (…) papelada que brotava da mítica arca onde entesourava originais, e de outros lugares, num espólio de 30 mil documentos, dos quais um quarto ainda não foi publicado.”
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“Deste universo einsteiniano em contínua expansão hoje não resta dúvida de que Fernando Pessoa sempre foi o extraordinário gestor da própria multiplicidade. Não tinha, como muitos escritores, obra de antemão determinada. Ia escrevendo-se, por assim dizer, ao longo da vida, porque é assim que funcionava a sua respiração essencial. Manteve até ao fim a qualidade de "indisciplinador de almas", conforme se definiu (…)".
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Fernando Pessoa:
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Obra Múltipla
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“João Gaspar Simões, partidário da explicação psicológica e biográfica da origem dos heterónimos, considera a heteronímia "expediente enganador", a que o poeta recorreu para ultrapassar a dificuldade de ser. Eduardo Lourenço acha que "não é o homem Pessoa que é múltiplo ou plural, e sim a sua inspiração, o seu estilo, a sua prosódia". Os heterónimos, Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos, não criaram os poemas; os poemas é que suscitaram os autores fictícios. Já Bernardo Soares, autor do Livro do Desassossego, de prosa, não é um verdadeiro heterónimo. Mais parecido talvez a Fernando Pessoa, é o homem sem quali-dades a quem a vida limou as asperezas ou apagou os contornos. Não tem máscara, nem rosto. Não é um outro Fernando Pessoa, mas também não é Fernando Pessoa. É o nada que ele descobria em si mesmo quando parava de fingir. O Livro do Desassossego é a crónica do pequeno mundo do escritório da Rua dos Douradores, na Baixa, com o patrão Vasques, o contabilista Moreira (de que Bernardo Soares é auxiliar), o caixa Borges, os outros poucos empregados e o moço de recados. É isso que lhe faz as vezes de lar. Escreve: «Cheguei hoje, de repente, a uma sensação absurda e justa. Reparei, num relâmpago íntimo, que não sou ninguém.»"
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Pessoa, Vida e Obra:
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Mistificar, Conhecer
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“Goethe, como Fernando Pessoa, foi devoto cultor das ciências mágicas; iniciado (…) desde os anos juvenis, pertenceu sucessivamente a várias sociedades secretas de fundamentos ocultistas; conheceu Cagliostro em Estrasburgo; a astrologia e a alquimia por ele cultivadas eram, no fim de contas, a ante-câmara das suas curiosidades científicas. (…) Um intelectual do tipo que ele era fez entrar na construção mental o que podia caber: o inteligível e o ininteligível, o racional e o irracional, o visível e o invisível, o claro e o misterioso, constituindo um sistema mágico nas suas conclusões embora desprovido de comprovação objetiva. Tudo se passou como se a subliteratura mística de onde extraía alento, ao atravessar seu cérebro privilegiado, saísse do outro lado filtrada e rarefeita do ponto de vista estético.”
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“Octavio Paz (El desconocido de sí mismo, em Cuadrivio) constatou que na obra poética de Fernando Pessoa a ausência da mulher é constante: "Faltam nele os prazeres tremendos. Falta a paixão, aquele amor que é o desejo de um ser único."
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"Tanto Alberto Caeiro como Ricardo Reis falam como eunucos, como se estivessem encobrindo, na maior parte da obra, a "sexualidade branca" de F. Pessoa, que, segundo consenso geral, morreu virgem. As cenas eróticas do Fausto contêm as confissões mais ardentes que Pessoa jamais fez sobre sua impotência. A inca-pacidade de praticar o "contacto carnal das almas" impedia-o de realizar seu sonho de amor («Seria doce amar, cingir a mim, / Um corpo de mulher, mas fixo e grave / E feito em tudo transcendentalmente, / O pensamento impede-me...»).”
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“Restou-lhe o homossexualismo subentendido, característico do grupo modernista português (Sá-Carneiro, Santa Rita Pintor, Almada Negreiros e os outros).”
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“Como nos diz Augusto Seabra, a poesia de Pessoa é vista, fundamentalmente, como um jogo do vivido imaginário, como um ‘poeto-drama’, mais do que como o drama do imaginário vivido.”
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"Um dia talvez compreendam que cumpri, como nenhum outro, o meu dever nato de intérprete de uma parte do nosso século." Bernardo Soares
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Alberto Caeiro

“Simples, Caeiro parte do zero, quando regressa a um primitivismo do conhecimento da Natureza. (…) Mestre de Ricardo Reis e Álvaro de Campos, a eles lhes ensinou a filosofia do não filosofar, a aprendizagem do desaprender.”

. Álvaro de Campos

“(…) a parte mais audaciosa a que Pessoa se permitiu, através das experiências mais barulhentas do futurismo português, inclusive com algumas investidas no campo da acção político-social.

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Para tanto, fez a adopção do quotidiano através do versilibrismo, integrando-se à civilização da máquina com o dinamismo e a inquietude do pós-guerra.”

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Ricardo Reis

“(…) procurou sempre o mais alto, o impossível até, para incrustar uma poesia refinada, concisa, elíptica, cunhada em linguagem esmerada (…)” “(…) prevalece o apolíneo comprovado por uma moderna consciência do fazer artístico.”

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“Reis leva o paganismo de Caeiro à sua expressão mais ortodoxa, através de um neoclassicismo neo-pagão consciente, cultivando a mitologia greco-latina.” “Clássico por excelência, idealista e platónico no amor, constata o efémero da vida e anseia, no íntimo, por uma fenomenológica eternidade terrena.”

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“O nada em excesso, a medida de todas as coisas manifesta-se na disciplina desse epicurista, cujo prazer está nos limites do homem diante da potência trágica do destino e do tempo.”

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“Fernando Pessoa nunca procurou lutar contra a incompreensão. Pelo contrário, cultivou-a afanosamente, pois mistificar era um jogo em que com honestidade empenhou tudo.”

Fernando Pessoa (1888 - 1935)

“Segundo (…) Linhares Filho

as duas principais características da sua modernidade seriam:

a consciência do fazer artístico

e

a prevalência do apolíneo sobre o dionisíaco, no elaborar-se poético.”

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fontes:

www.secrel.com.br/jpoesia/leo02.html

www.secrel.com.br/blima01.html

www.secrel.com.br/hil01.html

selecção por maria toscano, 20 Nov 2005

Sem comentários:

já de abalada? ande cá! corra a cuartina de riscas e sente-se aí no mocho (no canapé? é melhor nã, nã seja que as preguetas lhe dêem cabo da roupa).
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faz calôrê nã? é tempo dele! no cântaro hai água fresquinha! e se quiser entalar alguma coisaaaa... a asada das azeitonas está chêinha, no cesto hai bobinha e papo-secos (com essa chôriça... ou com o quêjo de cabra, iiiisso!, nessa seladêra de esmalte!);
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chegue-se à mesa! - cuidado não lhe rebole a melancia para cima dos dedos do péi... assim... - entã nã se está melhórê?
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nã, nã, agora nã vai máinada! estou a guardar-me pra logo... ora na houvera de sêri! ah! já lhe dê o chêro! pois é: alhos e coentros e um nadica de vinagrê... vem aí do alguidar de barro... sim, sã nas carnes prá cêa.
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como nã sê o que o trouxe cá, forastêro, ‘stêja nesta sulmouradia como à da sua: pode ir mirando os links ("do monte"; "olivais..."; "deste planAlto..."; estas é que são...") os montes de que gostamos; pode ir vendo os posts por data ou esprêtando as nossas etiquêtas
("portados"); ou pode ir passando os olhos só pelos mais recentes.
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ah! repare lá que por estes lados nã temos o hábito de editarê todos os dias - não é um blogue-diário, 'tá a vêri?; pensámo-lo antes como sendo uma espécie de blogue-testemunho das vozes do Sul (o de cá e os Suis todos); mas temos ainda muito qu'arengar... vamos lá chegando, n'éi? devagarê, que o sol quêma!
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