(sobre o meu pastor,
.o Fernão de Magalhães
.e El Cano)
.
.há uma árvore que Guernica
.pela Concha parisiense
.
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.
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.há embuçados do medo
.que se mesclam com a luta
.dos povos militantes
.no passado do presente.
.há tortilla de patata
.e também de bacalado
.há ritmo de tamborrada
.um clarete e o txakoli
.que refrescam as gargantas;
-cães e passos apeados
.e mesas corridas, de pé:
.banqueteadas sidrerías
.¡ al txot !, sidra bebi.
.
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.há as tais boinas negras
.(que não boinas de verdade)
.há cantores e coros de homens
.e pais e avôs pela cidade
.que emocionam o corpo
.de qualquer mulher, idade
.por abrir tenras idades:
.plena mulher da Saudade.
.há também rostos de gentes
.manicures da burguesia
.que inchou com sabonetes
. -sabão que leva o vison
.de passeio pelas avenidas.
.
.
.há jovens de azul e roxo
.e meninas convencidas.
.
.
.há passeios com passeio
.onde o passo se demora;
.
.
.há uma enseada brava
.densada pela memória
.ue habita, hoje, entre montes:
. do orgulho e o da vitória.
.
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.namorados aos pares
. sapatilhas a quatro
.reconhecendo os contornos
.grânulos da areia-sereia.
.Sereias? também disseram
.mas nunca cheguei eu a vê-las.
.
.
.Só com as lâmias adormeci
.meus cabelos no desejo:
.
.- « Foi no Monte. Meu pastor
.basco, sonriente e belo
.rebelou, de cacto, em flor;
.da carcaça, içou um veleiro;
.dos medos de las borrascas
.« ¡boga!, ¡boga !», caravelas,
.calosos pavores ancestrais
.revolveu ventos da espera:
. - revoltou-se nos turbilhões
.da esquerda não amarela -
.e, com Magalhães, enfim
.soltámos, os três, a quimera
.da distância dos mortais;
.dobrámos o Cais de Sines
.( antes a Boca do Inferno,
.e a devoção das cruzes
.nas praias da Mira eterna);
.dobrámos istos e aquilos
.e as cassettes da entrega.
.
.
.Nessa madrugada branca
.fui despertada a cantar
.pelas luzes dessas fadas
.fadadas p’ra me coroar.
.E Magalhães e o outro
.com padrões de povos novos
.cruzaram a pedra e as mãos
.(cruz do bem que uniu os Povos
.do Norte aos que, do Sul,
.enfrentaram Adamastores
.e sereias de incerta idade).
.
.
.Nessa madrugada branca
.foi o entoar da sibila,
. - minto: da lamia antiga
.com cabelos disfarçada -
.nessas horas de desoras
.o flamenco e a zarzuela
.esventraram as mentiras
.do absoluto, do relativo,
.do «nunca nada senti».
.
.
.E as luzes dessas fadas
.penteadas p´ra me coroar
.despertaram-me ilesa.
.Num feliz desabrochar,
.ancorávamos - Fernão, eu
.e o outro que não está -
.acostávamos à muralha
.da verdade, do falar.»
.
.
.
.
.
.meus cabelos de desejo
.(com Fernão e o que não está)
.adormecidos nas vagas
. - pentear despentear -
.são a prova crua e gráfica
.do poder do navegar:
.Magias de impossíveis
.Imponderáveis conquistas
.impensáveis relíquias:
.só elas, as lâmias sábias
.Geram e Guardam ao Criar.
.
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.maria toscano, a Utopia da Coragem. Viseu, Palimage Editores, 1999.
4 comentários:
forte, fôlego
o
do poema
e
belo
o
canto de uma outra sereia
.
.
.
bato palmas ao partir
.
.
ao chegar
.
bastei-me . li.
obrigada, maria!
!hola MOURAdia
saludos desde india
:-P
al-jib: venha então esse vento de sul, areado...
:-)
bem hajaaaaaaaaa
mouraaaaaaaa
emedeamar: ah, ah, ah
moura
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