Central Blogs
. Licença Creative Commons
sulmoura de Maria Toscano está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em http://sulmoura.blogspot.pt/.

quinta-feira, julho 26, 2007

o mar, maria t

.
.
este é o mar onde se planta a calma.
.
.
.
semeado a eito pela canga de bestas
alinhadas à mão pelo grito humano
mão e grito alinhados
pela visão ampla larga e comovida
com a fartura prometida desde a raiz,
este é o mar.
.
.
.
este o pousio. a estufa. o restolho.
maré mutante espelho sob azul.
ondas douradas, cheias, outras rasas
escuras alagadas. torrões
mastros castanhos de vela esverdeada
ao cimo da âncora mergulhada na raiz.
este é o mar. sem porto nem foral
onde se refazem ovos e algas
onde renascem troncos e conchas
mar onde todos o oceanos se fazem
vermelhos e negros. do norte e do sul.
este é o mar suado vida-a-vida
sagrado.
multiplicação de conduto e alegrias
milagre da partição das águas
parábola dos que caminham
descalços
compenetrados
em cada rego da anunciada fartura
linhos de bodas do pão com o vinho
temperos fortes ácidos cheirosos
cânfora de enxovais
hortelã de sopas
caldos
de que guardamos lãs entranhas leite e
o badalo
compenetrado sino a boiar entre as ondas
deste mar temperado à mão.
deste que é.
mar bordejado pela pedra onde a pedra vem morrer
se não fôr cinza.
espuma dourada da colheita onde a colheita pousa
se não secar.
baía lavrada a ferro
forjada à mão e pelo grito
humano
mãos e gritos deslumbrados e comovidos
se não forem escravos.
extensa planura onde a visão sagrada vem morar
se não profanada.
vasta planície onde o olival é pavio
varejado pavio de candeias
fruto
em pratos e broas
e na almotolia
se a fome não vier.
.
.
.
recobro da história
resguardo das vozes
rescaldo das secas
recanto das fugas
rebento das moças
.
roça da magnífica carne ensalivada entre carícias e coices
.
águas ribeiras línguas revoltas
desaguando saciadas, sempre.
na calma.
.
.
.
este é o mar
guardador da letra da revolta
lavrador da sílaba fêmea
o amante da casa materna.
.
.
.
este. imensíssimo. ancestral
embalo do olhar onde se planta a calma.
.
.
.
mãe das almas rubras.
.
.
.
este. é. o mar.
.
.
.
maria toscano,
em Julho Estoril - 18 - e Coimbra - 24-27 - de 2007

Sem comentários:

já de abalada? ande cá! corra a cuartina de riscas e sente-se aí no mocho (no canapé? é melhor nã, nã seja que as preguetas lhe dêem cabo da roupa).
.
faz calôrê nã? é tempo dele! no cântaro hai água fresquinha! e se quiser entalar alguma coisaaaa... a asada das azeitonas está chêinha, no cesto hai bobinha e papo-secos (com essa chôriça... ou com o quêjo de cabra, iiiisso!, nessa seladêra de esmalte!);
.
chegue-se à mesa! - cuidado não lhe rebole a melancia para cima dos dedos do péi... assim... - entã nã se está melhórê?
.
nã, nã, agora nã vai máinada! estou a guardar-me pra logo... ora na houvera de sêri! ah! já lhe dê o chêro! pois é: alhos e coentros e um nadica de vinagrê... vem aí do alguidar de barro... sim, sã nas carnes prá cêa.
.
como nã sê o que o trouxe cá, forastêro, ‘stêja nesta sulmouradia como à da sua: pode ir mirando os links ("do monte"; "olivais..."; "deste planAlto..."; estas é que são...") os montes de que gostamos; pode ir vendo os posts por data ou esprêtando as nossas etiquêtas
("portados"); ou pode ir passando os olhos só pelos mais recentes.
.
ah! repare lá que por estes lados nã temos o hábito de editarê todos os dias - não é um blogue-diário, 'tá a vêri?; pensámo-lo antes como sendo uma espécie de blogue-testemunho das vozes do Sul (o de cá e os Suis todos); mas temos ainda muito qu'arengar... vamos lá chegando, n'éi? devagarê, que o sol quêma!
.