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este é o mar onde se planta a calma.
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semeado a eito pela canga de bestas
alinhadas à mão pelo grito humano
mão e grito alinhados
pela visão ampla larga e comovida
com a fartura prometida desde a raiz,
este é o mar.
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este o pousio. a estufa. o restolho.
maré mutante espelho sob azul.
ondas douradas, cheias, outras rasas
escuras alagadas. torrões
mastros castanhos de vela esverdeada
ao cimo da âncora mergulhada na raiz.
este é o mar. sem porto nem foral
onde se refazem ovos e algas
onde renascem troncos e conchas
mar onde todos o oceanos se fazem
vermelhos e negros. do norte e do sul.
este é o mar suado vida-a-vida
sagrado.
multiplicação de conduto e alegrias
milagre da partição das águas
parábola dos que caminham
descalços
compenetrados
em cada rego da anunciada fartura
linhos de bodas do pão com o vinho
temperos fortes ácidos cheirosos
cânfora de enxovais
hortelã de sopas
caldos
de que guardamos lãs entranhas leite e
o badalo
compenetrado sino a boiar entre as ondas
deste mar temperado à mão.
deste que é.
mar bordejado pela pedra onde a pedra vem morrer
se não fôr cinza.
espuma dourada da colheita onde a colheita pousa
se não secar.
baía lavrada a ferro
forjada à mão e pelo grito
humano
mãos e gritos deslumbrados e comovidos
se não forem escravos.
extensa planura onde a visão sagrada vem morar
se não profanada.
vasta planície onde o olival é pavio
varejado pavio de candeias
fruto
em pratos e broas
e na almotolia
se a fome não vier.
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recobro da história
resguardo das vozes
rescaldo das secas
recanto das fugas
rebento das moças
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roça da magnífica carne ensalivada entre carícias e coices
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águas ribeiras línguas revoltas
desaguando saciadas, sempre.
na calma.
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este é o mar
guardador da letra da revolta
lavrador da sílaba fêmea
o amante da casa materna.
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este. imensíssimo. ancestral
embalo do olhar onde se planta a calma.
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mãe das almas rubras.
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este. é. o mar.
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maria toscano,
em Julho Estoril - 18 - e Coimbra - 24-27 - de 2007
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