1.
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amanso agora um pouco mais a tua mão,
amor.
com o vagar temperado na alegria
afago a tua fonte a borbulhar de vida.
contida seiva branca
entrega-se a montes e vales
no momento interno do aflorar
da sílaba
repetidamente voraz e contida.
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amanso, afago e afloro a tua mão
rendida
remanso da nascente cristalina.
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2.
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abre-se o universo
aquietado
pelo espasmo vital que se anuncia.
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gérmen do nunca silenciado
argumento do impossível vencido
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abre-se o espasmo.
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e o vital nos guia.
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3.
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nunca
jamais
em tempo algum
o fogo se deixara tocar tão tão de perto
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sabia
o fogo
que não sairia ileso.
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4.
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sejam mecânicos ancestrais
digitais
todos os ponteiros de todos os relógios
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nunca alcançarão a acertada hora
de nossos ponteiros carnais.
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5.
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o turbilhão da pele estremece-me
as pernas
revela-me em duas metades
corpo.
alma.
pelo mesmo turbilhão a nossa roça
nus leva à fusão
devolve-nos inteiros.
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6.
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quero o laço a côdea o miolo
e a cereja
de leite ungida.
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7.
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quanto mais fundo
mais intenso
amarar nas águas brancas.
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8.
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nem todos os caminhos vão dar a roma.
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há uma rota intensamente aberta
ao teu sul.
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9.
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colegas camaradas companheiros
de desconhecidos
mas reconhecidos amantes.
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10.
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à roda do meu ombro a tua boca
à volta do meu seio a tua língua
- versos pobres metáforas
da iluminura.
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11.
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hei-de ir beber á fonte desse poema
a sílaba que me abre em palavras.
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12.
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ficam dois gestos de mãos pelo teu rosto
como uma benção
do que foi sem se ir.
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13.
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amanso a tua pele agora
ao de leve
com o vagar animado pela poesia.
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maria toscano,
em Coimbra (café Santa Cruz),
a 26 de Julho de 2007
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