.Talvez o vinho traga
.da pedra
.o cheiro da erva
.e o vento das encostas.
.Talvez o vinho traga
.do gado
.o olhar fundo e bravio
.e se sonhe água fria e breve,
.nuvem vinda lá do rio.
.Talvez o vinho traga
.das laranjeiras
.o porte das raizes
.fundas e tardias.
.E mouras
.de guerras brandas
.descalças todos os dias
.chorem demoradas nas estradas
.o silêncio do gado ausente
.em pranto ou alegria.
.Talvez o vinho traga
.outras guerras
.outros véus.
.Talvez o vinho traga
.das laranjas
.maio e chuva
.e prenda à cercania
.o olhar do próprio gado
.e descalças estas mouras
.sonhem água farta e fria
.talvez o vinho guarde
.do olhar mouro as espadas
.e do cristão as mesmas armas.
.
José R Marto
.
(de O longínquo privar dos dias (inédito)
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