Central Blogs
. Licença Creative Commons
sulmoura de Maria Toscano está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em http://sulmoura.blogspot.pt/.

quinta-feira, outubro 16, 2008

auto-retratos na 3.ª pessoa - 2.

.
.
.
"os meus amigos são, 
só, 
pessoas interessantes.
o funcionário público que se balda
o mais que pode
o vendedor seja do que for
que importa? desde que te enrole
o gestor do inexistente negócio
desbaratando o nome do pai
o desempregado que apenas
quer trabalhar desde que não trabalhe mas pareça muito ocupado
o lojista sem loja
o especialista sem espécie
— fabulosos, ambos, por conseguirem
enganar a todos —
o erudito que compra livros no antiquário
para os apadrinhar no espólio da família
o corrector da bolsa de alto nível
(tão alto, o nível, que ninguém tem nível para o contratar)
o criativo na pose de emborcar shots
o sonhador que só o é no fim de uma noite
de charros e cervejolas
a engraçada e autónoma
para tudo, excepto existir.
.
os meus amigos? 
todos pessoas interessantes
.
a prova disso
é que não se interessam por ler
nunca precisaram de aprender nem perguntar nada
nem, sequer, de abrir um dicionário
jamais se preocuparam com o sentido
da vidinha
(aliás, desprezam — porque são espertos —
qualquer menção
despropositadamente feita
ao comum dos porquês)
não tenho ideia de quererem ter
algum
querer
nem os imagino, de modo algum,
a efabular
quanto ao que querem 
melhorar ou mudar
ou (impensável!) 
abandonar
negar
reconstruir
de vez.
.
os meus amigos
são pessoas interessantes
porque são os espertos
e desprezam, com grande enfado,
tudo o que ressoe
a obra
a compromisso
intenção e
sentido.
.
são livres, percebes?
.
livres de tudo isso
os meus amigos
todos
interessantes
são, como tal,
conhecidos pelos apelidos
de quem lhes paga renda cervejas
e muda as fraldas.
que os meus amigos
são todos
filhos interessantes
de pessoas importantes que os amam
como tal
não os educaram
na contrariedade.
no fundo, é isso"
—  não os educaram
     para o milagre profundo
     da existência
     (não o disse. mas podia ouvir-se.
     bem).
.
.
.
maria toscano
Coimbra, Jardim da Manga, 5 Set/ 2008

Sem comentários:

já de abalada? ande cá! corra a cuartina de riscas e sente-se aí no mocho (no canapé? é melhor nã, nã seja que as preguetas lhe dêem cabo da roupa).
.
faz calôrê nã? é tempo dele! no cântaro hai água fresquinha! e se quiser entalar alguma coisaaaa... a asada das azeitonas está chêinha, no cesto hai bobinha e papo-secos (com essa chôriça... ou com o quêjo de cabra, iiiisso!, nessa seladêra de esmalte!);
.
chegue-se à mesa! - cuidado não lhe rebole a melancia para cima dos dedos do péi... assim... - entã nã se está melhórê?
.
nã, nã, agora nã vai máinada! estou a guardar-me pra logo... ora na houvera de sêri! ah! já lhe dê o chêro! pois é: alhos e coentros e um nadica de vinagrê... vem aí do alguidar de barro... sim, sã nas carnes prá cêa.
.
como nã sê o que o trouxe cá, forastêro, ‘stêja nesta sulmouradia como à da sua: pode ir mirando os links ("do monte"; "olivais..."; "deste planAlto..."; estas é que são...") os montes de que gostamos; pode ir vendo os posts por data ou esprêtando as nossas etiquêtas
("portados"); ou pode ir passando os olhos só pelos mais recentes.
.
ah! repare lá que por estes lados nã temos o hábito de editarê todos os dias - não é um blogue-diário, 'tá a vêri?; pensámo-lo antes como sendo uma espécie de blogue-testemunho das vozes do Sul (o de cá e os Suis todos); mas temos ainda muito qu'arengar... vamos lá chegando, n'éi? devagarê, que o sol quêma!
.