.
.
1. do rio depois das chuvas
.
.
.
brioso, bojudo, orgulhoso
.da rapina de misérias
e relíquias
.
.
.
inteiro, intenso, farto, imenso
no desaguante destino
para a foz
.
.
.
brutal, incessante, incansável
prenho do perecível.
a caminho. virgem.
.
.
.
circular fecundação do oceano
.
.
.
refazer nascentes.
fazer-se em fonte.
.
.
.
.
maria toscano
em Coimbra, no Parque Verde, a 29 Janeiro/2009
.
.
.
.
2. da claridade
.
.
.
.
da metáfora da vida
tomar o branco.
.
.
.
.
.
anda por todo lado
esta metáfora
.
.
.
por calçadas, fontes, frontarias
estendais, nacos de céus
bermas do amr
enxovais, toldos
fatos de anjo
.
.
.
da metáfora do branco
tomar a vida.
decliná-la em milíssimas
cores. estivais.
.
.
.
.
maria toscano
Coimbra, Café St.ª Cruz, a 21 Abril/2008 e 28/Janeiro/2009
.
.
.
.
3. da esperança
.
.
.
.
olha, ser a palavra
que temes.
sílaba intacta
da incansável boca
soletrada,
semente esmerada.
ser a curva palavra.
.
.
.
ser.
olho do grão de-
vida palavra
na fibra do encanto
na cadência.
.
.
.
passo. desafiador dos caminhos.
.
.
.
olha, ser a palavra
a incumprida
aliança em doce espera.
.
.
.
.
maria toscano,
Coimbra, Café St.ª Cruz, a 21 Abril/2008 e 28/Janeiro/2009
.
.
.
.
4. do amor (Sonata)
.
.
.
.
um
.
entre a voz e o silêncio te encontro
amor da minha vida. sem compasso.
entre a primeira nota da sonata
o ruidoso enrolar das vagas brancas
toco a tua pele dorida na maré.
.
.
sem compasso e sem contexto é a onda
a que entrego a filigrana de meu corpo.
entre o rumor e o sopro de oceanos
visitadora dos cânticos difíceis
a onda a que entrego o aconchego
devolve-me, por sua vez, o inaudito
amor da minha vida. sem contexto.
.
..
.
.
dois
.
entre a voz e o silêncio me encontras
na gymnopédie lenta de Satie.
.
entre a voz e a sonata.
nas marés.
.
.
.
maria toscano
Porto Palácio Hotel, 5 maio/2008
.
.
.
.
.
5. da poesia
.
.
.
.
por dentro das coisas todas
palpitante
uma sílaba de fogo
alimenta
calendários de horas e de pausas
incumpridas.
palpitante
habita e gera o imprevisto
de gentes bichos coisas — criaturas.
modo sólido de concretização por dentro
das matérias.
uma sílaba
afagante
no ardor
em pulsação.
.
.
.
.
maria toscano
Aveiro, 1.º de Maio/ 2008
.
2 comentários:
... leio os teus poemas belíssimos como quem »da metáfora do branco toma a vida« e segue directo para a sonata, sabendo que alguém a cantará tão livre como tu...
Volto as formas iniciais que são tuas e há luz de nascer no Alentejo.
Ouço-te agora, dou-me à vaidade de encher a minha casa com o teu canto, ao sul.
abraço
______________ Zé Marto
Que são poemas? eu acredito (se não acreditasse, ia dormir em vez de tirar horas ao sono para estas palavrinhas); mas nã tenho a certeza.
Quando tiver A Certeza - às portas da morte, seguramente -, digo-o.
.
Que são belíssimos para ti: Acredito e Agradeço.
.
Que canto livre? então... haverá outra forma de "CANTAR"?
.
De formas iniciais... ?
És tu quem vê os sinais
.
Vaidades? entre Amigos-que-São-Irmãos não há dessas escroquerias:
somosUmIrmão!,
somosTodosUm!
.
Abraço!
(e beijocas pás tuas Meninas, Briosas!)
.
e Muita Fala para o Teu Poema
da mt, Irmã. GraTa.
Enviar um comentário