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sábado, janeiro 31, 2009

ciclo virtuoso da vida

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1.  do rio depois das chuvas
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brioso, bojudo, orgulhoso
da rapina de misérias
e relíquias
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inteiro, intenso, farto, imenso
no desaguante destino
para a foz
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brutal, incessante, incansável
prenho do perecível.
a caminho. virgem.
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circular fecundação do oceano
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refazer nascentes.
fazer-se em fonte.
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maria toscano
em Coimbra, no Parque Verde, a 29 Janeiro/2009
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2.  da claridade
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da metáfora da vida
tomar o branco.
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anda por todo lado
esta metáfora
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por calçadas, fontes, frontarias
estendais, nacos de céus
bermas do amr
enxovais, toldos
fatos de anjo
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da metáfora do branco
tomar a vida.
decliná-la em milíssimas
cores. estivais.
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maria toscano
Coimbra, Café St.ª Cruz, a 21 Abril/2008 e 28/Janeiro/2009
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3.  da esperança
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olha, ser a palavra
que temes.
sílaba intacta
da incansável boca
soletrada,
semente esmerada.
ser a curva palavra.
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ser.
olho do grão de-
vida palavra
na fibra do encanto
na cadência.
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passo. desafiador dos caminhos.
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olha, ser a palavra
a incumprida
aliança em doce espera.
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maria toscano, 
Coimbra, Café St.ª Cruz, a 21 Abril/2008 e 28/Janeiro/2009
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4. do amor (Sonata) .
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um
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entre a voz e o silêncio te encontro
amor da minha vida. sem compasso.
entre a primeira nota da sonata
o ruidoso enrolar das vagas brancas
toco a tua pele dorida na maré.
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sem compasso e sem contexto é a onda
a que entrego a filigrana de meu corpo.
entre o rumor e o sopro de oceanos
visitadora dos cânticos difíceis
a onda a que entrego o aconchego
devolve-me, por sua vez, o inaudito
amor da minha vida. sem contexto.
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..
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dois
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entre a voz e o silêncio me encontras
na gymnopédie lenta de Satie.
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entre a voz e a sonata.
nas marés.
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maria toscano
Porto Palácio Hotel, 5 maio/2008
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5.  da poesia
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por dentro das coisas todas
palpitante
uma sílaba de fogo
alimenta
calendários de horas e de pausas
incumpridas.
palpitante
habita e gera o imprevisto
de gentes bichos coisas — criaturas.
modo sólido de concretização por dentro 
das matérias.
uma sílaba
afagante 
no ardor
em pulsação.
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maria toscano
Aveiro, 1.º de Maio/ 2008
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2 comentários:

JOSÉ RIBEIRO MARTO disse...

... leio os teus poemas belíssimos como quem »da metáfora do branco toma a vida« e segue directo para a sonata, sabendo que alguém a cantará tão livre como tu...
Volto as formas iniciais que são tuas e há luz de nascer no Alentejo.
Ouço-te agora, dou-me à vaidade de encher a minha casa com o teu canto, ao sul.
abraço

______________ Zé Marto

emedeamar disse...

Que são poemas? eu acredito (se não acreditasse, ia dormir em vez de tirar horas ao sono para estas palavrinhas); mas nã tenho a certeza.
Quando tiver A Certeza - às portas da morte, seguramente -, digo-o.
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Que são belíssimos para ti: Acredito e Agradeço.
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Que canto livre? então... haverá outra forma de "CANTAR"?
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De formas iniciais... ?
És tu quem vê os sinais
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Vaidades? entre Amigos-que-São-Irmãos não há dessas escroquerias:
somosUmIrmão!,
somosTodosUm!
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Abraço!
(e beijocas pás tuas Meninas, Briosas!)
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e Muita Fala para o Teu Poema
da mt, Irmã. GraTa.

já de abalada? ande cá! corra a cuartina de riscas e sente-se aí no mocho (no canapé? é melhor nã, nã seja que as preguetas lhe dêem cabo da roupa).
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faz calôrê nã? é tempo dele! no cântaro hai água fresquinha! e se quiser entalar alguma coisaaaa... a asada das azeitonas está chêinha, no cesto hai bobinha e papo-secos (com essa chôriça... ou com o quêjo de cabra, iiiisso!, nessa seladêra de esmalte!);
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chegue-se à mesa! - cuidado não lhe rebole a melancia para cima dos dedos do péi... assim... - entã nã se está melhórê?
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nã, nã, agora nã vai máinada! estou a guardar-me pra logo... ora na houvera de sêri! ah! já lhe dê o chêro! pois é: alhos e coentros e um nadica de vinagrê... vem aí do alguidar de barro... sim, sã nas carnes prá cêa.
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como nã sê o que o trouxe cá, forastêro, ‘stêja nesta sulmouradia como à da sua: pode ir mirando os links ("do monte"; "olivais..."; "deste planAlto..."; estas é que são...") os montes de que gostamos; pode ir vendo os posts por data ou esprêtando as nossas etiquêtas
("portados"); ou pode ir passando os olhos só pelos mais recentes.
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ah! repare lá que por estes lados nã temos o hábito de editarê todos os dias - não é um blogue-diário, 'tá a vêri?; pensámo-lo antes como sendo uma espécie de blogue-testemunho das vozes do Sul (o de cá e os Suis todos); mas temos ainda muito qu'arengar... vamos lá chegando, n'éi? devagarê, que o sol quêma!
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