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sexta-feira, abril 22, 2011

das marés

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quando a maré se levanta
vem de mansinho.
aliás, não vem
remexe-se bem lá no fundo
convocando algas corais
e a sereia
que dessa vez venha no seu
carrossel.
quando a maré se levanta
há gotículas de oxigénio
de plâncton e sorrisos
e os peixes deliciam-se
nas lufadas de ar.
mas, sobretudo,
quem rejubila em cada maré nova
são fósseis tritões e ninfas.
verdade, verdadinha:
nunca são novas
as marés que se levantam
espreguiçadas
pela bainha de rochas e areais.
são visitas e promessas
são guardiãs
do que respira à tona, à superfície.
são guardiãs e promessas:
são visitas
para tudo o que submerge
eternamente.
quando a maré se levanta
vem de mansinho
nesse labor discreto de anciã
reconhece um a um todos os
gestos
que fundam os mistérios dos oceanos.
acaricia cada pérola viva
crosta aparente de húmus palpitante
retoca a agulha e outras ferramentas
dos peixes operários laboriosos.
brinda a cada côrte de corais
beija a finura dos lábios das areias
roça, saudosa, pelos matos lavrados.
doces princesas dos 4 elementos
governam, agora, outras paragens
que a maré visita antes do recolher.
quando a maré se levanta
e todos já despertaram
beija a mão à sereia que a guia
e deposita-lhe, no colo,
a agenda
das oportunidades / que traz / para esse dia.
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é, então, que a sereia fica encantada
.
da beleza e amplidão do seu trabalho
gemem-lhe os olhos
afina escamas
refulge nos brilhos
vem à tona
brandir a cauda
guia, gulosa, a maré.
e a veloz maré
alaga rochas terras e areias
onde os humanos andam perdidos
até que consigam entender
que as marés
são abraços
que a vida dos fundos nos dá.
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maria toscano
Porto, Casa de Serralves
9 Maio / 2006

Sem comentários:

já de abalada? ande cá! corra a cuartina de riscas e sente-se aí no mocho (no canapé? é melhor nã, nã seja que as preguetas lhe dêem cabo da roupa).
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faz calôrê nã? é tempo dele! no cântaro hai água fresquinha! e se quiser entalar alguma coisaaaa... a asada das azeitonas está chêinha, no cesto hai bobinha e papo-secos (com essa chôriça... ou com o quêjo de cabra, iiiisso!, nessa seladêra de esmalte!);
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chegue-se à mesa! - cuidado não lhe rebole a melancia para cima dos dedos do péi... assim... - entã nã se está melhórê?
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nã, nã, agora nã vai máinada! estou a guardar-me pra logo... ora na houvera de sêri! ah! já lhe dê o chêro! pois é: alhos e coentros e um nadica de vinagrê... vem aí do alguidar de barro... sim, sã nas carnes prá cêa.
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como nã sê o que o trouxe cá, forastêro, ‘stêja nesta sulmouradia como à da sua: pode ir mirando os links ("do monte"; "olivais..."; "deste planAlto..."; estas é que são...") os montes de que gostamos; pode ir vendo os posts por data ou esprêtando as nossas etiquêtas
("portados"); ou pode ir passando os olhos só pelos mais recentes.
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ah! repare lá que por estes lados nã temos o hábito de editarê todos os dias - não é um blogue-diário, 'tá a vêri?; pensámo-lo antes como sendo uma espécie de blogue-testemunho das vozes do Sul (o de cá e os Suis todos); mas temos ainda muito qu'arengar... vamos lá chegando, n'éi? devagarê, que o sol quêma!
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