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primeira
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neste Pátio
agora silencioso
repousam
lancinantes
dores humanas
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serão as do susto, serão as do medo
as do segredo e as da fraternidade
serão as humanas dores do corpo humano
serão as dores
silenciosas dores humanas.
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neste Pátio
agora silencioso
resguardemos
ciosos
as dores humanas.
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serão as do verdugo
as da pergunta
da renúncia
forçada
e as do rogo
serão as dores humanas
fogo e ferida
tortura escabrosa
discurso odioso
serão as dores
silenciosas
dores humanas
que se resguardam
e repousam
neste Pátio.
em nada, senão no nome
se recordam.
belas pedras
polidas acolhedoras
álea finíssima
de um banco acompanhada
— grande banco para conversas
.....para esperas
.....banco de encontro repouso contemplação
.....banco de pausa para outros labores humanos.
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neste Pátio
agora silencioso
repousaremos
entre a memória e o perdão.
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neste Pátio
onde, agora, silencioso
reina a tríplice cozedura do humano.
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neste Pátio.
agora: poderoso.
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segunda
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também de pedra
é a memória
deste Pátio:
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rasa no chão
sóbria na pausa
coluna encantada
arco passagem
moída puída
puída escada
puída, a alvenaria
persistente
pois de memória / também esta pedra / é habitada.
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também de memória
é a pedra deste Pátio:
pois a luz
entre a arcada e a réstea
rude
sublinha o movimento
intenso intenso
que faz da pedra
a imponência
onde o hoje se lavra.
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também de pedra
é a memória
deste Pátio
branco brancura límpida
serena
reluz em ombreiras em ferros e
sacadas
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também de pedra
é a memória
deste Pátio.
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ténue poeira transluz ao respirar
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o dia pousa o calor
pousa o olhar
e assim
na memória
suspira a pedra
deste Pátio.
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maria toscano
Coimbra, Pátio da Inquisição, 16 Setembro/2003
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terceira
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para o banco corrido ao rés-da-pedra
sonhou, o construtor, destinos vários:
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um descanso quando a idade já medra.
uma pausa — ou o almoço — de operários.
a agonia sentada e a solidão
de um lancinante adeus dito à distância.
destemida pirralhice da infância.
a mochila para a capoeira e a lição.
mapas por mãos turistas desdobrados.
um cigarro no entretanto fumado.
dois anjinhos e a térrea catequista.
a paragem na febre consumista.
encontros de estudantes ou namorados —
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sonhou, o construtor, doces conquistas.
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sonhou: mil, os recantos, que tu habitas.
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maria toscano
Coimbra, Pátio da Inquisição, 16 e 30 Setembro/2003
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2 comentários:
Adorei seu blog!
Bom fim de semana,
Marceli
http://dicadelivro.com.br/
Bem Haja! Excelente a sua página! Boa continuação neste caminho pelos livros! mt, Grata!
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