Central Blogs
. Licença Creative Commons
sulmoura de Maria Toscano está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em http://sulmoura.blogspot.pt/.

quinta-feira, maio 05, 2011

nesta pedra. poema platónico.

1

nesta pedra

assenta

a minha vida.

.

é singular, distinta

e igual às outras pedras.

.

nasceu oval, pequena

oval, alada

toda torneada de algas

inquietas asas / se fora de água

ilesas, lisas

quando vogam voam pelo uni-

verso.

.

2

nesta pedra

assentou-me

a mim, a vida.

.

num repente

o fogo em movimento

estalou a ranhura

da espera

.

passo ante passo

desbordei a galera.

.

braço até braço

encaminhei-me

do porão ao convés

guiada pela tosca lanterna.

.

nada buliu: nem vento

nem maresia

nem pérolas afogadas / nem algas

.

3

desci pelos nós

morenos nós

feitos de vidas embebidas em cordas

.

só nós. de nós sem nós.

.

segurei uma mão ao remo verde

e saltei sem me mover sobre o oceano

.

4

havia um lusco-fusco

solidário

que me deu o laço do sossego

sem vassoura, voei

rumei rasei

monstrengos batráquios e fósseis

doces

.

5

à beira-terra

uma crosta milenar

acenou-me em cruz

marcou em luz

o este.

logo o sossego abriu seu colo

em colo

deusas de branco e amarelo,

infinitas

menearam seus cabelos de doce

carmim.

latiu o bastão no recorte redondo

enquanto A Mãe

a todas nós embalava

(só nós. sem nós.)

.

6

de súbito árvores ou mãos erguidas

ao sul

chamaram-nos para o alto mar

a norte.

rodámos com as horas as saias

infindas

acertámos o tempo deste a este

pelo vermelho-azul

derramando leite

de ternas virgens doces vestais.

.

7

fechado o momento

intemporal

A Mãe libertou-me do

ainda

ovo.

.

8

deslumbrada, estremeci do não tormento

pois raízes

agora

me nasciam

indaguei com o olhar

onde fincá-las

.

barba branca

aparecida então

silenciou-me o receio e

em segredo / partiu.

.

9

nesta pedra

assento

assim

a minha vida.

.

árvores-mãos floresço

nasço à passagem

inquietas asas sopro

sou na miragem

carmins dourados levo

e anuncio se o caminho

encruzilha a caminhada

e alva branca doce terna

vestal

doou-me

livre raiz sou.

pedra.

filosofal.

.

.

.

maria toscano

Coimbra, ‘Docas’, 25 Agosto/2004

.

Sem comentários:

já de abalada? ande cá! corra a cuartina de riscas e sente-se aí no mocho (no canapé? é melhor nã, nã seja que as preguetas lhe dêem cabo da roupa).
.
faz calôrê nã? é tempo dele! no cântaro hai água fresquinha! e se quiser entalar alguma coisaaaa... a asada das azeitonas está chêinha, no cesto hai bobinha e papo-secos (com essa chôriça... ou com o quêjo de cabra, iiiisso!, nessa seladêra de esmalte!);
.
chegue-se à mesa! - cuidado não lhe rebole a melancia para cima dos dedos do péi... assim... - entã nã se está melhórê?
.
nã, nã, agora nã vai máinada! estou a guardar-me pra logo... ora na houvera de sêri! ah! já lhe dê o chêro! pois é: alhos e coentros e um nadica de vinagrê... vem aí do alguidar de barro... sim, sã nas carnes prá cêa.
.
como nã sê o que o trouxe cá, forastêro, ‘stêja nesta sulmouradia como à da sua: pode ir mirando os links ("do monte"; "olivais..."; "deste planAlto..."; estas é que são...") os montes de que gostamos; pode ir vendo os posts por data ou esprêtando as nossas etiquêtas
("portados"); ou pode ir passando os olhos só pelos mais recentes.
.
ah! repare lá que por estes lados nã temos o hábito de editarê todos os dias - não é um blogue-diário, 'tá a vêri?; pensámo-lo antes como sendo uma espécie de blogue-testemunho das vozes do Sul (o de cá e os Suis todos); mas temos ainda muito qu'arengar... vamos lá chegando, n'éi? devagarê, que o sol quêma!
.