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sábado, agosto 06, 2011

“Play it again, Sam!”

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de uma viagem sem regresso
traço episódios
roteiros
cenas ocultas. virtuais.
malas de cânfora pela mão do uniforme muleque
átrios abrindo palmeiras
salas amplas douradas
salões de mármore e sedas
sons negros em teclas pretas
brancas. e metais.
uso uma écharpe longa
ousada sob o chapéu
frou-frou dançante
swingante
apaixonados caquis
vibram decotes amantes/ engomados brancos virados
virtuais e brancos decotes cinturas ombros e colos
da viagem sem regresso.
amparo à borda dos cabelos
a renda beije a grená
debruada. supremo veludo
por onde espreita um colete
oculto assertoado.
está-se a meio do take um 
deste amor virtual
tropical
deste, rodado ao Norte
do deserto onde, alguém,
esteve morto de tão perto.
espreitando, do outro lado
os virados engomados
da camisa luzidia
chego a ver o arfar das quentes veias
ofegantes.
pulsante, o átrio, extremoso
estremece na emoção.
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o herói espreito, à descarada,
um herói negro em fuga
em suas talhadas rugas no olhar e na face séria
na séria, tão séria face
que estala, louca, a ternura
arrebatada. em desejo
apetece
saciar
só com um lábio
entreaberto
apetece roçar lamber a ruga sem abertura.
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amanho melhor a volúpia a renda e os viçosos
caracóis que me emolduram.
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(já vamos a mais de meio 
deste rodar tropical deste amor virtual
e ainda não sinto o teu pulso tamborilar).
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desisto da sombra ao balcão
rodo-a e a mim, ou esvoaço
entre o libré e o piano.
repousa, aí, inacessível o
coraçãozinho real
acessório dispensável
numa viagem filmada
sem regresso. virtual.
arrepiada, olho a este
a este Humphrey de frente
e, só então te reconheço:
Humphrey Bogart, meu amor!
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a paixão rebobina toda a fita original.
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deslaço corto recorto
e recuso as turbinas do isolado avião.
que se estafem, a rodar
sem mim na escuridão.
os reais faróis realçam
à mesma, os teus olhos
recuo no passo na escada
esqueço o remate habitual
para regressarmos juntos
e abraçados ao salão
onde, encostada ao piano
digo pela primeira vez:
“Play it again, Sam!”
na vida de tanta gentinha
assim, pela primeira vez
torno-me em tua amante
serena como felina

— em Casablanca, ó meu amor,
....onde o rodar do tempo não é vão.
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maria toscano.
Praia da Tocha. 27/ Julho/ 2002.
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Sem comentários:

já de abalada? ande cá! corra a cuartina de riscas e sente-se aí no mocho (no canapé? é melhor nã, nã seja que as preguetas lhe dêem cabo da roupa).
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faz calôrê nã? é tempo dele! no cântaro hai água fresquinha! e se quiser entalar alguma coisaaaa... a asada das azeitonas está chêinha, no cesto hai bobinha e papo-secos (com essa chôriça... ou com o quêjo de cabra, iiiisso!, nessa seladêra de esmalte!);
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chegue-se à mesa! - cuidado não lhe rebole a melancia para cima dos dedos do péi... assim... - entã nã se está melhórê?
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nã, nã, agora nã vai máinada! estou a guardar-me pra logo... ora na houvera de sêri! ah! já lhe dê o chêro! pois é: alhos e coentros e um nadica de vinagrê... vem aí do alguidar de barro... sim, sã nas carnes prá cêa.
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como nã sê o que o trouxe cá, forastêro, ‘stêja nesta sulmouradia como à da sua: pode ir mirando os links ("do monte"; "olivais..."; "deste planAlto..."; estas é que são...") os montes de que gostamos; pode ir vendo os posts por data ou esprêtando as nossas etiquêtas
("portados"); ou pode ir passando os olhos só pelos mais recentes.
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ah! repare lá que por estes lados nã temos o hábito de editarê todos os dias - não é um blogue-diário, 'tá a vêri?; pensámo-lo antes como sendo uma espécie de blogue-testemunho das vozes do Sul (o de cá e os Suis todos); mas temos ainda muito qu'arengar... vamos lá chegando, n'éi? devagarê, que o sol quêma!
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