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sexta-feira, agosto 05, 2011

Ladainha da Rainha Isabel

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do outro lado da via

reflecte-se o sol nos vidros

onde os taipais, encerrados,

albergam mesas mobílias

gestos intenções sentidos

milagres de róseas rosas

e um gato de pêlo russo

se enrosca no xaile gasto.

do outro lado da via

descem, descendo o passeio,

pulsos assarapantados

fumos de ilusões ou ócios

um casaco desabotoado

pernitas encanastradas

um blusão, uma mochila

duas mãos dadas, rugosas,

olhos brilhantes em jovens

passadas à pressa de quem/ vai revolucionar o mundo.

do outro lado da via

pulmões suspiram coroas

flores e asas de cores

esvoaça uma promessa

tenta-se uma aventura

conjectura-se o atraso

da passagem do andor

afivela-se um sapato

acerta-se um colarinho

desce-se a mini subida

do lado de lá da via

onde espairecem velhotes

os pombos os namorados

a viúva e seu rosário

uma índia, um crioulo

e pastéis de Santa Clara

balouçam no saco branco

de plástico transparente

junto da lata de chá

Lipton / ou guaraná.

do outro lado da via

fica o ar carburado

com o mini o desportivo

o smart descapotável

e uma bicicleta à mão a atrasar o condutor.

sobe uma fita branca

enlaçada na trança.

de preto, um pós-moderno

oldfashioned na pedrada.

descem caracóis dourados

onde se reflecte o sol.

do outro lado da via

pensamentos baixam os olhos,

tristezas geram tormentos

em olhos arregalados

e fazem o andor pesar.

pára-se a ver uma montra

enquanto se passa o tempo

para não se chegar, lá, cedo

entra-se café adentro

para amestrar a amargura

com o álcool emborcado

na esperança de, à entrada,

se dar a aparição

marcada em carne e osso

fascinante inquietante

perturbadora do ranço

onde abolorece o futuro

e nos cega o ver, imóveis,

que, no lado de lá da via,

confissões são adiadas.

no 3.º andar direito

há choro em convulsão,

enquanto, ao lado, um cachopo,

muda a pilha ao cavalo / que o eleva a Rei D. Pedro.

à volta pairam, alados,

— do outro lado da via —

segredos intuições desejos

aguardando pacientes

que queiramos ou nos dignemos

perceber que só há vida

no que move o movimento

— não neste poiso cinzento

de mira embutida imóvel

mo outro lado da via.

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maria toscano.

Coimbra, ‘Afterhours’, 17 de Maio / 2004

Sem comentários:

já de abalada? ande cá! corra a cuartina de riscas e sente-se aí no mocho (no canapé? é melhor nã, nã seja que as preguetas lhe dêem cabo da roupa).
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faz calôrê nã? é tempo dele! no cântaro hai água fresquinha! e se quiser entalar alguma coisaaaa... a asada das azeitonas está chêinha, no cesto hai bobinha e papo-secos (com essa chôriça... ou com o quêjo de cabra, iiiisso!, nessa seladêra de esmalte!);
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chegue-se à mesa! - cuidado não lhe rebole a melancia para cima dos dedos do péi... assim... - entã nã se está melhórê?
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nã, nã, agora nã vai máinada! estou a guardar-me pra logo... ora na houvera de sêri! ah! já lhe dê o chêro! pois é: alhos e coentros e um nadica de vinagrê... vem aí do alguidar de barro... sim, sã nas carnes prá cêa.
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como nã sê o que o trouxe cá, forastêro, ‘stêja nesta sulmouradia como à da sua: pode ir mirando os links ("do monte"; "olivais..."; "deste planAlto..."; estas é que são...") os montes de que gostamos; pode ir vendo os posts por data ou esprêtando as nossas etiquêtas
("portados"); ou pode ir passando os olhos só pelos mais recentes.
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ah! repare lá que por estes lados nã temos o hábito de editarê todos os dias - não é um blogue-diário, 'tá a vêri?; pensámo-lo antes como sendo uma espécie de blogue-testemunho das vozes do Sul (o de cá e os Suis todos); mas temos ainda muito qu'arengar... vamos lá chegando, n'éi? devagarê, que o sol quêma!
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