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envolta por roseiras cardinais
descubro a cor do sol quando amanhece
aos poucos vejo azulejos, vitrais
deslumbramentos que a mão nos oferece.
escondida na coluna lateral
à esquerda, encontro o rigor do subtil
nem é bem esconderijo: é mais um poiso
a tripla dimensão dos elementos
que me cabe renovar pelo fogo.
recolhida no plano elemental
aprumo vértices. amamento as curvas
limo raízes para brotarem viçosas
lustro a serpente — dourada, há-de durar —
limpo, do rodapé, medos ancestrais
retoco o toque oval da maçaneta
fecho a porta (a entrada é por dentro)
às pérfidas provas por que passei.
envolta por roseiras cardinais
desabrocho numa gotinha de água.
a cor do sol amanhece-me em prisma
pelo horizonte faz-me em arco-íris.
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é de fausto a hora da Procissão:
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os sinos badalam cimeiros a viras
e saias nos altifalantes da Festa.
meninos e meninas vão de anjos
mãos direitas traçam bênçãos intensas
almas escuras vigiam nas sacadas
a Beata e já Santa Beatriz da Silva.
calças vincadas marcam o compasso às bandas
(rodopiar castanholas é só mais logo)
mães de dedais fogão e caracóis
pousam as fitas das pandeiretas loucas
(o arrepiar da saia é só mais logo).
carregadinho de flores vivas, o andor
faz concorrência à Vila em floração.
dobram os sinos incansáveis. repicam.
nesse entretanto, os altifalantes calam
(cantar ao desafio é para mais logo).
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antenas em cruz sobre os telhados
acenam moveres de consolação.
balançam — dizem que sim que sim
dizem sim aos festejos ao Sul.
enquanto o martírio se encerra no convento
sinos massacram a quietude sagrada.
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Maria, sem sinais, Maria, vais sozinha.
envolta por roseiras cardinais
tecidas em papel à mão do povo
descubro a cor do Sul quando anoitece.
Lua esmerada. Candeia a luzir.
espraio-me, fervorosa, pelo horizonte e,
no darmos as mãos, Maria, tecemos. Sinais.
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maria toscano, em 2004.
Coimbra, a 17/Agosto; Campo Maior, a 29/ Agosto.
(sobre a Procissão de Santa Beatriz da Silva durante as Festas de Campo Maior deste mês).
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