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Baseado no trabalho disponível em http://sulmoura.blogspot.pt/.

sexta-feira, agosto 05, 2011

Procissão.

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envolta por roseiras cardinais

descubro a cor do sol quando amanhece

aos poucos vejo azulejos, vitrais

deslumbramentos que a mão nos oferece.

escondida na coluna lateral

à esquerda, encontro o rigor do subtil

nem é bem esconderijo: é mais um poiso

a tripla dimensão dos elementos

que me cabe renovar pelo fogo.

recolhida no plano elemental

aprumo vértices. amamento as curvas

limo raízes para brotarem viçosas

lustro a serpente — dourada, há-de durar —

limpo, do rodapé, medos ancestrais

retoco o toque oval da maçaneta

fecho a porta (a entrada é por dentro)

às pérfidas provas por que passei.

envolta por roseiras cardinais

desabrocho numa gotinha de água.

a cor do sol amanhece-me em prisma

pelo horizonte faz-me em arco-íris.

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é de fausto a hora da Procissão:

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os sinos badalam cimeiros a viras

e saias nos altifalantes da Festa.

meninos e meninas vão de anjos

mãos direitas traçam bênçãos intensas

almas escuras vigiam nas sacadas

a Beata e já Santa Beatriz da Silva.

calças vincadas marcam o compasso às bandas

(rodopiar castanholas é só mais logo)

mães de dedais fogão e caracóis

pousam as fitas das pandeiretas loucas

(o arrepiar da saia é só mais logo).

carregadinho de flores vivas, o andor

faz concorrência à Vila em floração.

dobram os sinos incansáveis. repicam.

nesse entretanto, os altifalantes calam

(cantar ao desafio é para mais logo).

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antenas em cruz sobre os telhados

acenam moveres de consolação.

balançam — dizem que sim que sim

dizem sim aos festejos ao Sul.

enquanto o martírio se encerra no convento

sinos massacram a quietude sagrada.

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olho a miserável corte que te acompanha:

Maria, sem sinais, Maria, vais sozinha.

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envolta por roseiras cardinais

tecidas em papel à mão do povo

descubro a cor do Sul quando anoitece.

Lua esmerada. Candeia a luzir.

espraio-me, fervorosa, pelo horizonte e,

no darmos as mãos, Maria, tecemos. Sinais.

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maria toscano, em 2004.

Coimbra, a 17/Agosto; Campo Maior, a 29/ Agosto.

(sobre a Procissão de Santa Beatriz da Silva durante as Festas de Campo Maior deste mês).

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Sem comentários:

já de abalada? ande cá! corra a cuartina de riscas e sente-se aí no mocho (no canapé? é melhor nã, nã seja que as preguetas lhe dêem cabo da roupa).
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faz calôrê nã? é tempo dele! no cântaro hai água fresquinha! e se quiser entalar alguma coisaaaa... a asada das azeitonas está chêinha, no cesto hai bobinha e papo-secos (com essa chôriça... ou com o quêjo de cabra, iiiisso!, nessa seladêra de esmalte!);
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chegue-se à mesa! - cuidado não lhe rebole a melancia para cima dos dedos do péi... assim... - entã nã se está melhórê?
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nã, nã, agora nã vai máinada! estou a guardar-me pra logo... ora na houvera de sêri! ah! já lhe dê o chêro! pois é: alhos e coentros e um nadica de vinagrê... vem aí do alguidar de barro... sim, sã nas carnes prá cêa.
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como nã sê o que o trouxe cá, forastêro, ‘stêja nesta sulmouradia como à da sua: pode ir mirando os links ("do monte"; "olivais..."; "deste planAlto..."; estas é que são...") os montes de que gostamos; pode ir vendo os posts por data ou esprêtando as nossas etiquêtas
("portados"); ou pode ir passando os olhos só pelos mais recentes.
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ah! repare lá que por estes lados nã temos o hábito de editarê todos os dias - não é um blogue-diário, 'tá a vêri?; pensámo-lo antes como sendo uma espécie de blogue-testemunho das vozes do Sul (o de cá e os Suis todos); mas temos ainda muito qu'arengar... vamos lá chegando, n'éi? devagarê, que o sol quêma!
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