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Baseado no trabalho disponível em http://sulmoura.blogspot.pt/.

terça-feira, dezembro 20, 2011

múltiplos sentires dos sentidos

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1.
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os olhos estalam.
estilhaçam-se ante a ignonímia
duradouras burlas de biltres e rapinas

ardem. os olhos. fixos no presente
desencantados por nem todos saberem os caminhos.
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os olhos anseiam
porque são olhos de ver
sempre desejam o horizonte
o por fazer

os olhos distendem-se
cristalinos ilimitados
porque, como o povo diz,
são, das almas, o espelho.

espraiados pelos longes
inatingíveis
vão refazendo, assim, a confiança
a serena bonança
a esperança firme

flor nascente a borbulhar em cada olhar
de cada vez que ver é fermentar

estilhaçados
em cacos se reunirão
pois disso trata a peregrinação de Ísis:
a eito, fermentar o indivisível
regenerar, em cada parte,
todo o horizonte

esse destino certo
pois impossível e inerente a cada
olhar.

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2.
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tantas as vezes quantas for necessário
há-de erguer-se a fala dos poetas
caminhará ondeará ou dirá, apenas,
dizendo, devagar, os grandes nomes
rebelando o consentir e o adiar
nomeando, carinhosa, os sítios certos
libando os húmus das peles indignadas
tantas as vezes quantas for preciso
há-de voltar o ritmo a cadência a toada
a rima interior da fala ilesa branca
destemida e incontida
ilimitada
entre o tom do reggae e o das guitarras
onde essa voz astuta nasce requebrada
para se alçar durando
audaz
sempre e enquanto for preciso ou necessário.

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3.
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amparando a pele
carnuda
a roçar lábios
hirtos os membros / os seios
a ovação

aninhando a gema
da pele
a salvação

rasando o de leve
até aos ínfimos

este o gesto mais inteiro da humana condição.

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4.
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de longe se instala
perdura
a intuição sem forma
do que existe.
acre áspero ou suave, de impulso forte
instalando-se, gravoso, na memória
de longe vem e perdura.

digo: o odor a pulsar.

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5.
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ínfimas partículas protegidas
antecedem o limiar da subsistência
esquecidas, fazem-se vivas
presentes
inflamadas por lábios e salivas.

dão-se-nos em doce e em salgado
dão-se-nos em novo e conhecido
dão-se-nos e dão-nos o liso tempo
da conversão de estranhos em amigos
pela partilha
à mesa
das insistentes ínfimas e presentes
partículas, ínfimas papilas do gosto.





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maria toscano.
19 Dezembro/ 2011.
Coimbra, Café Tropical.
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Sem comentários:

já de abalada? ande cá! corra a cuartina de riscas e sente-se aí no mocho (no canapé? é melhor nã, nã seja que as preguetas lhe dêem cabo da roupa).
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faz calôrê nã? é tempo dele! no cântaro hai água fresquinha! e se quiser entalar alguma coisaaaa... a asada das azeitonas está chêinha, no cesto hai bobinha e papo-secos (com essa chôriça... ou com o quêjo de cabra, iiiisso!, nessa seladêra de esmalte!);
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chegue-se à mesa! - cuidado não lhe rebole a melancia para cima dos dedos do péi... assim... - entã nã se está melhórê?
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nã, nã, agora nã vai máinada! estou a guardar-me pra logo... ora na houvera de sêri! ah! já lhe dê o chêro! pois é: alhos e coentros e um nadica de vinagrê... vem aí do alguidar de barro... sim, sã nas carnes prá cêa.
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como nã sê o que o trouxe cá, forastêro, ‘stêja nesta sulmouradia como à da sua: pode ir mirando os links ("do monte"; "olivais..."; "deste planAlto..."; estas é que são...") os montes de que gostamos; pode ir vendo os posts por data ou esprêtando as nossas etiquêtas
("portados"); ou pode ir passando os olhos só pelos mais recentes.
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ah! repare lá que por estes lados nã temos o hábito de editarê todos os dias - não é um blogue-diário, 'tá a vêri?; pensámo-lo antes como sendo uma espécie de blogue-testemunho das vozes do Sul (o de cá e os Suis todos); mas temos ainda muito qu'arengar... vamos lá chegando, n'éi? devagarê, que o sol quêma!
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