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e agora nós:
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e agora nós:
venho-te dizendo, fazem milénios, da candura de uma asa aberta, da
lisura de uma mão estreitada noutra mão, do cálido encontro de um ombro gelado
com um seio morno. venho-to dizendo e não me cansarei de o repetir, dado ser
minha condição esta tarefa de falar do mesmo falando do mesmo com outros modos
e de outras latitudes o que, em linguagem do século vinte e um, pode
traduzir-se por: outros referentes e media.
venho-te dizendo — meu amor único, pois íntimo — venho-to desenhando
no écran dos correios e nas cores de cada poema que te envio, venho-to cantando
nos conhecidos fados e cantigas a invadirem o ar, venho-to desejando durante os
meus votos de sonhos ou sono acordado, venho-to indicando em cada passada de 36
(confere com metro e meio de altura) curtinha mas seguríssima — desculpa a
desfaçatez mas, ante um ego tão egóico, é-te difícil até admitir, quanto mais
reconhecer que, como a Amália cantava, ‘há quem nasça pequenino pra cumprir um
grande fado’.
venho, em suma, -TO.
nesta hora das nossas vidas, curtas mais do que breves — breve remete
para abreviar, encurtar e, no nosso caso, foi-nos lançado, ou lançámo-nos, o
desafio de assegurar, continuar, fecundar, semear, luzir, até pela palavra como
agora tento eu louvar a vida onde pouso e por onde me estou tecendo — nestas
horas das nossas curtas vidas, de novo e mais uma vez, venho, apenas,
lembrar-te
pousa o coração na nascente de cada frase.
acolhe o lírio dourado que te roça a vidraça.
abre, serenamente, mão da alheia invernia.
despede-te da dor em bicos de pés para vires fazer a sesta a meu lado.
anda sempre amparado da tua profunda ternura.
ama-te eternamente, como eu te amo a ti.
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maria toscano.
praia da Tocha,
na ‘Casa do Castelo’, 7 Maio / 2012.
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2 comentários:
Passei por aqui. Entrei sem pedir permissão. Sentei-me, observei, li e gostei. Muito.
Daqui, uma moura do sul vai seguir outra.
e como estou a responder / gerir os comentários. Muito obrigada! Bem -Vinda! VOLTE SEMPRE! (e desculpe o tempo... que passou!) abraço! mt
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