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no alisar das penas encontro rugas.
espreitam para definir-se a seguir.
no gesto de aceitação sofrido
no afagar e cuidar das dores
ainda imprecisas e finas assomam
a competir com os fios azuis das veias.
estranho essa visão inesperada
no rosto, na minha pele robusta
feita para ventos e neves
gostosa para beijos e carícias.
estranho, pois, essa linhas imprecisas
apostadas em vincar-se dia após dia
sendo o dia-a-dia um caminho para a morte
quando as rugas deixam de fazer sentido
quando a vida faz todo o redundante sentido.
é no alisar das dores furiosas
a cada pena cravada na gravada
a cada suster de ar e melodias
que as incolores veias destemidas
vão ocupando os interstícios dos poros
assenhoreando-se de cantos e recantos
aqui uma descendo ali uma escondida
outra emparelhada com curvas do nariz
outra amigada à covinha do queixo
inesperadas incolores mas destemidas
as rugas marcam o compasso dos dias
o tricotar do berço derradeiro
o tecer a esperança incondicional
através da qual assumimos gestos rimas
através da qual elegemos casas ofícios
através da qual nos revemos, consolados,
em cada ruga ou marcador das penas
chancela pura dos actos cometidos
única prova, viva, de ser-se, do vivido.
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maria toscano. © inédito
Coimbra, Café Trianon, 22 Janeiro / 2013.
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