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segunda-feira, junho 17, 2013

Olé!

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enquanto Amigo se entrega à guitarra clássica de acordes flamencos
sinto uma profunda emoção sem nome, inédita ao mesmo tempo que ancestral.
os meus dedos desenham vazios no teclado, vazios transpostos para o écrã de luz 
                                                                                                  [ em letrinhas.

os meus dedos ficam aquém da destreza bela
do deslizar
dos dedos de Amigo.

as minhas mãos 
— essas de que tanto tenho escrito pois, sendo minhas, 
contêm em si mesmas as primevas artes de benção, afago e colo — 

as minhas mãos de mulher, pequenas e tão intensas quanto suaves e mágicas, ressentem as cordas de aço, a madeira e o fluxo de ar.

Amigo, de seu nome Vicente, avança na cantata, seja ela bullería ou alegría ou
                                                                                              [ outro modo 
do sul fazer história ritmada, requebrada, rasgada no mais fundo do coração 
ao rubro, dos corações atados pelas ditaduras da ordem pré-feita, não perfeita

corações sangrantes também nos passos de quem saiba bater o salto, arrastar o 
passo, arrasar a poeira da entrada da tasca, para quem saiba alçar os folhos, 
bandear as ancas de desejo seriamente desenhado e vivido

pois tudo o que vem do fogo divino deve ser fogosamente amado e servido, 
sublimemente servido sem servidões vis: só amorosas. servidões.

para quem saiba deslizar os dedos pelo vazio
para quem saiba alçar os dedos no encalce das notas certas
para quem saiba tanger a madeira o brilho a pele — para quem saiba, 
se serve essa profunda emoção sem nome, inédita ao mesmo tempo que ancestral.

pelas minhas mãos de mulher, a refrega do sul. 

nas minhas mãos de mulher —pequenas, intensas quanto suaves,pois mágicas — é  
nas minhas mãos que se ressentem as cordas de aço, 
o dorso de madeira e o fluxo de ares profundos que inspiras, Amigo, 
agora outro, não o Vicente mas tu, meu Amigo de idas e vindas intermináveis há 
                                                                                                         [ décadas.

importa dizer desta profunda emoção sem nome, inédita ao mesmo tempo que 
                                                                                                          [ ancestral
e de que nenhum de nós tem medo nem vergonha de falar, enfrentar, sentir.



o medo das emoções amassa os corações. 



nenhum brinquedo de papel sobrevive ao rebulhão dos sentimentos.



os braços fechados em perímetros prévios morrem sufocados .


enquanto os dedos de Vicente vibram na noite
olhar-te fundo, no passar destes tempos lentos, 
é um privilégio sem cotação nem preço.
abraço os acordes.
solto o travessão.
e — Olé! — já sou a de mantilha de seda 
e sapato negro no bamboleio ao sul
ao som da voz e das palmas
no encalce das notas certas
a tanger os brilhos da pele —
pois tudo o que vem do fogo divino 
só fogosamente é amado e servido, 
sublimemente servido sem servidões vis senão 
as servidões amorosas
pois quem sabe
serve essa profunda emoção sem nome, 
inédita ao mesmo tempo que ancestral.
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maria toscano
Coimbra. (C)Asa Verde, 15 a 17 Junho / 2013.
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Sem comentários:

já de abalada? ande cá! corra a cuartina de riscas e sente-se aí no mocho (no canapé? é melhor nã, nã seja que as preguetas lhe dêem cabo da roupa).
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faz calôrê nã? é tempo dele! no cântaro hai água fresquinha! e se quiser entalar alguma coisaaaa... a asada das azeitonas está chêinha, no cesto hai bobinha e papo-secos (com essa chôriça... ou com o quêjo de cabra, iiiisso!, nessa seladêra de esmalte!);
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chegue-se à mesa! - cuidado não lhe rebole a melancia para cima dos dedos do péi... assim... - entã nã se está melhórê?
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nã, nã, agora nã vai máinada! estou a guardar-me pra logo... ora na houvera de sêri! ah! já lhe dê o chêro! pois é: alhos e coentros e um nadica de vinagrê... vem aí do alguidar de barro... sim, sã nas carnes prá cêa.
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como nã sê o que o trouxe cá, forastêro, ‘stêja nesta sulmouradia como à da sua: pode ir mirando os links ("do monte"; "olivais..."; "deste planAlto..."; estas é que são...") os montes de que gostamos; pode ir vendo os posts por data ou esprêtando as nossas etiquêtas
("portados"); ou pode ir passando os olhos só pelos mais recentes.
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ah! repare lá que por estes lados nã temos o hábito de editarê todos os dias - não é um blogue-diário, 'tá a vêri?; pensámo-lo antes como sendo uma espécie de blogue-testemunho das vozes do Sul (o de cá e os Suis todos); mas temos ainda muito qu'arengar... vamos lá chegando, n'éi? devagarê, que o sol quêma!
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