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sexta-feira, maio 31, 2013

se ainda não se notou, passo a escrevê-lo


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tirei a vida toda, para me dedicar 
a aprendê-la, 
surpreendentemente devagar
de todas as formas que me apareça e se me dê
pulsante, cativante — viva —
apenas com a condição de, em contrapartida, 
me tornar mais livre cintilante e límpida
através de cada passo onda verso olhar abraço.
tirei a vida inteira para viver.
em cada galho pouso-me um segundo 
em cada portado repouso do sono
em cada peitoril apoio o enquanto
e, em cada átrio e pátio, as brancas enseadas das casas
acolho vento e marés. a rebentação de sóis e ondas.
tirei a vida toda a madrugada
gigante monção aliada dos meus dias.
quando te perco há um silvo de coruja insistente
a persistir na loucura de que te devo procurar
a persistir no recado de que em ti devo persistir.
mas tu morres-me sempre, meu amor.
morres-me de racismo 
na ponta de uma navalha skin à porta de um concerto punk-rock.
morres-me de sol
no fim de tarde encandeando o volante até a um tronco de árvores.

morres-me de ausências
marinheiro dedicado ao mar de guerra parado.

morres-me de álcool 
embebido nas memórias nos gestos e nas palavras de teu pai.
morres-me de arrogância
narciso mentiroso entre a esposa enganada e os filhos criados.
morres-me de dor política, de raiva infante e fervente.
morres-me de juvenis 
olhar e gesto respeitosos curiosos que ainda não consigo receber.
morres-me de frases
concisas perfeitas e doridas, 
com as quais teci muito do xaile branco onde respiro.
morres-me de inércia ou sofreguidão
de apatia ou de veloz passagem
de desejo comum e fogoso
de íman raro como de reconhecimento
de espanto ou de reencontro
de ardor ou de frescura
morres-me, amor, nas duras horas vividas

a persistir na loucura de que devo procurar-te
a persistir no recado de que devo persistir em ti.

tirei a vida inteira para viver.

em cada galho pouso-me um segundo 
em cada portado repouso do sono
em cada peitoril apoio o enquanto
e, em cada átrio e pátio, as enseadas brancas das casas
acolho vento e marés. a rebentação de ondas e sóis.
tirei a vida toda, meu amor, para me dedicar 
a aprendê-la, surpreendentemente devagar.
tirei a madrugada e o amanhecer da vida toda
— essa gigante monção aliada dos meus dias —
até que o melro negro me apareça e se me dê

pulsante, cativante — vivo —
apenas com a condição de, em contrapartida, 
— e se ainda não se notou, passo a escrevê-lo —
me tornar mais livre cintilante e límpida
através de cada passo onda verso olhar abraço.
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maria toscano, ©
Coimbra, Casa Verde, 30-31 Maio / 2013.

Sem comentários:

já de abalada? ande cá! corra a cuartina de riscas e sente-se aí no mocho (no canapé? é melhor nã, nã seja que as preguetas lhe dêem cabo da roupa).
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faz calôrê nã? é tempo dele! no cântaro hai água fresquinha! e se quiser entalar alguma coisaaaa... a asada das azeitonas está chêinha, no cesto hai bobinha e papo-secos (com essa chôriça... ou com o quêjo de cabra, iiiisso!, nessa seladêra de esmalte!);
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chegue-se à mesa! - cuidado não lhe rebole a melancia para cima dos dedos do péi... assim... - entã nã se está melhórê?
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nã, nã, agora nã vai máinada! estou a guardar-me pra logo... ora na houvera de sêri! ah! já lhe dê o chêro! pois é: alhos e coentros e um nadica de vinagrê... vem aí do alguidar de barro... sim, sã nas carnes prá cêa.
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como nã sê o que o trouxe cá, forastêro, ‘stêja nesta sulmouradia como à da sua: pode ir mirando os links ("do monte"; "olivais..."; "deste planAlto..."; estas é que são...") os montes de que gostamos; pode ir vendo os posts por data ou esprêtando as nossas etiquêtas
("portados"); ou pode ir passando os olhos só pelos mais recentes.
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ah! repare lá que por estes lados nã temos o hábito de editarê todos os dias - não é um blogue-diário, 'tá a vêri?; pensámo-lo antes como sendo uma espécie de blogue-testemunho das vozes do Sul (o de cá e os Suis todos); mas temos ainda muito qu'arengar... vamos lá chegando, n'éi? devagarê, que o sol quêma!
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