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segunda-feira, maio 13, 2013

curto abedecedário



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confesso que o abecedário se me faz curto, pouco
no que respeita à matéria da perplexidade.

vem uma mulher pelo caminho, exausta do pó das idas e vindas, subidas, curvas, carreiros e rotas com que se foi deparando ao longo do trajecto escolhido mas de cuja escolha ancestral não guarda memória nos dias.
nos dias o premente é alçar os braços, apagar incêndios de fogos mortos, afastar pedras, a uns; segurar nas pedras, a outros; amparar nas costas arqueadas algum salto, cobrir de meigo tacto lágrimas no rosto, lavar o suor, beijar as feridas — sarar ou sorver as feridas —, amparar o sangue dorido
nas iniciáticas menstruações, amansar os coices parturientes amparar o alívio do corpinho nascente dos que vêm do futuro para nos ajudar a ensinar.
nos dias o premente é este sufocante e milagroso
gesto veloz
de apoiar amainar activar actuar aceitar animar acreditar afinar
nos dias do amar em tempo veloz.
vem uma mulher pelo caminho, pedinte de água e tempo, amorosa do sol do corpo, ou seja, da risa da alegria maior e de todas as alegrias acedíveis
pelo afago a cócega o beijo a fusão roçante e o orgasmo, os orgasmos
fulminantes do veloz tempo de fogos mortos.
basta uma palavra, como, aliás, já se sabe.
basta uma palavra bombeira inteiramente vermelha e fresca
ao mesmo tempo isso: fresca e encarnada, pois a cor em questão nada tem a ver com vermes mas com a nossa condição de pele veias e sentidos nos dias.
confesso: no que respeita à perplexidade
a matéria da perplexidade, tão desejada e ansiada mas pouco acedida,
o abecedário devém pouco, faz-se curto.

pelo caminho escolhido
mas de cuja escolha ancestral não guarda memória nos dias
a mulher
— exausta do pó —
rejuvenescida pelo sufocante e milagroso gesto veloz
de apoiar amainar activar actuar aceitar animar acreditar afinar,
a mulher encontra-se dentro da palavra amar
pequenina palavra onde os seus pés, a custo,
tacteiam os rumos, as pausas e o estar no tempo veloz
sempre um tempo atroz, como, aliás, já se sabe,
mas que muitos não admitem ou cegam na mulher.

se o sufocante e milagroso gesto veloz arrasa os caminheiros
também agasta a mulher que vem pelo caminho
pedinte de água e tempo e amorosa do sol do corpo:
risa, a alegria maior e todas as alegrias esquecíveis
nos dias do premente veloz.
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maria toscano. © inédito in 'Poemas da rápida aproximação do cinquentenário.
Coimbra, Casa Verde, 12 Maio / 2013.
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Sem comentários:

já de abalada? ande cá! corra a cuartina de riscas e sente-se aí no mocho (no canapé? é melhor nã, nã seja que as preguetas lhe dêem cabo da roupa).
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faz calôrê nã? é tempo dele! no cântaro hai água fresquinha! e se quiser entalar alguma coisaaaa... a asada das azeitonas está chêinha, no cesto hai bobinha e papo-secos (com essa chôriça... ou com o quêjo de cabra, iiiisso!, nessa seladêra de esmalte!);
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chegue-se à mesa! - cuidado não lhe rebole a melancia para cima dos dedos do péi... assim... - entã nã se está melhórê?
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nã, nã, agora nã vai máinada! estou a guardar-me pra logo... ora na houvera de sêri! ah! já lhe dê o chêro! pois é: alhos e coentros e um nadica de vinagrê... vem aí do alguidar de barro... sim, sã nas carnes prá cêa.
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como nã sê o que o trouxe cá, forastêro, ‘stêja nesta sulmouradia como à da sua: pode ir mirando os links ("do monte"; "olivais..."; "deste planAlto..."; estas é que são...") os montes de que gostamos; pode ir vendo os posts por data ou esprêtando as nossas etiquêtas
("portados"); ou pode ir passando os olhos só pelos mais recentes.
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ah! repare lá que por estes lados nã temos o hábito de editarê todos os dias - não é um blogue-diário, 'tá a vêri?; pensámo-lo antes como sendo uma espécie de blogue-testemunho das vozes do Sul (o de cá e os Suis todos); mas temos ainda muito qu'arengar... vamos lá chegando, n'éi? devagarê, que o sol quêma!
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