Central Blogs
. Licença Creative Commons
sulmoura de Maria Toscano está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em http://sulmoura.blogspot.pt/.

terça-feira, agosto 27, 2013

do meu despeito pelo boletim meteorológico




nos dias mais amenos suportam-se melhor.
quero dizer, controlam-se melhor ou, pelo menos, sendo menos densas,
podem tomar-se na mão, levando devagar a mão acima e abaixo, a avaliar-lhes
o peso e a inerente capacidade de intromissão e vidência.
já nos dias dos grandes calores são muito mais ariscas:
ficam em casa, recusam-se a aparecer na calçada sob a torreira do sol — odeiam transpirar — e, as que começam por dar sinal de vida são as mais pesadas: a luz veraneando por sobre as suas curvas, amorna-as e agasta-as.
como acontece com as pessoas.
de pouco me importa o boletim meteorológico.
confesso nutrir mesmo bastante desconfiança a seu respeito.
despeito crescente desde a puberdade, essa moldura da vida onde as curvas
são todas mais mornas e a velocidade compete com as regras
da física contemporânea — por ser uma velocidade física imediata e, portanto,
intemporal.
os boletins meteorológicos são absurdamente ineficientes e, até, perigosíssimos,
dado omitirem, sempre, o estado desses centrais componentes do estado do tempo:
as palavras.

alguém sabe se o dia seguinte será propenso à rima?

alguma vez se avisa do risco de paixão súbita na previsão da passagem de alguma?

quantas vezes se realçaram as amplitudes falantes de dada quinzena?, a precipitação leve ao fim de algum poema?, a aproximação às áreas de aproximação aos aeroportos de fluxos doridos e saudosos de palavras? para já não falar do total silenciamento das palavras anunciando o fim de dia, das frases refrescantes de madrugadas, e das superfícies frontais de criatividades falantes à volta dos enamorados, com tendência para transformarem-se em teias complexas de frases quentes e catatónicas.
a minha profunda indiferença pelos boletins meteorológicos alimentou
o conhecimento de alguns mapas e movimentos naturais das palavras.
nos dias mais amenos, suportam-se melhor.
mas, devido ao seu peso e à inerente capacidade de intromissão e vidência,
é nos dias acalorados que emergem fogosas e resistentes
à gélida acomodação a frases feitas em ciclos de respiração pré-treinada.
amo-as a todas, sinceramente.
entre as serôdias, as irreverentes e as implacáveis, tento seguir o rumo da fala.
amo-as — no meu mais íntimo sentido.
.
maria toscano
Coimbra, (C)Asa Verde, 27 Agosto/ 2013.




Sem comentários:

já de abalada? ande cá! corra a cuartina de riscas e sente-se aí no mocho (no canapé? é melhor nã, nã seja que as preguetas lhe dêem cabo da roupa).
.
faz calôrê nã? é tempo dele! no cântaro hai água fresquinha! e se quiser entalar alguma coisaaaa... a asada das azeitonas está chêinha, no cesto hai bobinha e papo-secos (com essa chôriça... ou com o quêjo de cabra, iiiisso!, nessa seladêra de esmalte!);
.
chegue-se à mesa! - cuidado não lhe rebole a melancia para cima dos dedos do péi... assim... - entã nã se está melhórê?
.
nã, nã, agora nã vai máinada! estou a guardar-me pra logo... ora na houvera de sêri! ah! já lhe dê o chêro! pois é: alhos e coentros e um nadica de vinagrê... vem aí do alguidar de barro... sim, sã nas carnes prá cêa.
.
como nã sê o que o trouxe cá, forastêro, ‘stêja nesta sulmouradia como à da sua: pode ir mirando os links ("do monte"; "olivais..."; "deste planAlto..."; estas é que são...") os montes de que gostamos; pode ir vendo os posts por data ou esprêtando as nossas etiquêtas
("portados"); ou pode ir passando os olhos só pelos mais recentes.
.
ah! repare lá que por estes lados nã temos o hábito de editarê todos os dias - não é um blogue-diário, 'tá a vêri?; pensámo-lo antes como sendo uma espécie de blogue-testemunho das vozes do Sul (o de cá e os Suis todos); mas temos ainda muito qu'arengar... vamos lá chegando, n'éi? devagarê, que o sol quêma!
.