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sábado, janeiro 08, 2011

biografia santareneana

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também quarenta e tantos anos.
ex-fumadora.
portuguesa.
mulher do vento sul.
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ensina para aprender tudo o que estuda
envolve-se no que pulula
por bem.
acolhe o homem que a afaga
ama o poema
e
a voz do cantar.
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quando o tempo se distende, sente.
sobretudo, sente saudades.
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um gesto soberano
seguramente
acende o luar a seus dias e "o sol nas noites".
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por tudo isto
serena e incontornavelmente
a meio do trabalho
e obrigações
em pleno movimento para férias
na borda de uma mesa de café
numa estação de autocarro do sul
à beira do mar de norte
no pleno oceano raso alentejano
ao saborear as botas entre cores de outono
ao espreguiçar os braços pelo estio
nas poças de água, fartura de chuvas,
avisos de melros no atrás da casa
um gesto soberano lhe perturba
a prosa
do quotidiano.
sabe deste gesto desde menininha
quando os cravos comoveram o mundo inteiro
e ao seu mundo de carinhos
como salazarento
soube desse gesto:
provou o verso que saía
aos borbotões
provou a aurora
o ser posta à prova pela Poesia.
do mesmo gesto passaria
desde então
a merecer a atenção de volúpias
o chamamento
e, nos outros, a inquietação
(gestos parcos ou luminosos ou baços).
do mesmo gesto viveria, desde então, pendente.
livremente pendente, encantada.
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levantam-se as horas
à chegada desse gesto.
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a cadência audaz
vem habitar os centrais interstícios
sem memorandum
sem conselho funcionário
empertigado
na prosa rasante da morte.
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também quarenta e tantos anos.
portuguesa.
mulher do vento sul.
serena e incontornavelmente:
buscadora da fala poética.
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maria toscano.
Porto, 4 e 5 Maio / 2008
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2 comentários:

© Maria Manuel disse...

fabulosa «fala poética», em que muitos se reconhecerão (não direi necessariamente na idade ou hábitos de fumo) na nacionalidade e na memória dos gestos impostantes, dos gestos de esperança.

beijo.

emedeamar disse...

! silêncio Grato! um beijinho. mt

já de abalada? ande cá! corra a cuartina de riscas e sente-se aí no mocho (no canapé? é melhor nã, nã seja que as preguetas lhe dêem cabo da roupa).
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faz calôrê nã? é tempo dele! no cântaro hai água fresquinha! e se quiser entalar alguma coisaaaa... a asada das azeitonas está chêinha, no cesto hai bobinha e papo-secos (com essa chôriça... ou com o quêjo de cabra, iiiisso!, nessa seladêra de esmalte!);
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chegue-se à mesa! - cuidado não lhe rebole a melancia para cima dos dedos do péi... assim... - entã nã se está melhórê?
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nã, nã, agora nã vai máinada! estou a guardar-me pra logo... ora na houvera de sêri! ah! já lhe dê o chêro! pois é: alhos e coentros e um nadica de vinagrê... vem aí do alguidar de barro... sim, sã nas carnes prá cêa.
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como nã sê o que o trouxe cá, forastêro, ‘stêja nesta sulmouradia como à da sua: pode ir mirando os links ("do monte"; "olivais..."; "deste planAlto..."; estas é que são...") os montes de que gostamos; pode ir vendo os posts por data ou esprêtando as nossas etiquêtas
("portados"); ou pode ir passando os olhos só pelos mais recentes.
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ah! repare lá que por estes lados nã temos o hábito de editarê todos os dias - não é um blogue-diário, 'tá a vêri?; pensámo-lo antes como sendo uma espécie de blogue-testemunho das vozes do Sul (o de cá e os Suis todos); mas temos ainda muito qu'arengar... vamos lá chegando, n'éi? devagarê, que o sol quêma!
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