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também quarenta e tantos anos.
ex-fumadora.
portuguesa.
mulher do vento sul.
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ensina para aprender tudo o que estuda
envolve-se no que pulula
por bem.
acolhe o homem que a afaga
ama o poema
e
a voz do cantar.
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quando o tempo se distende, sente.
sobretudo, sente saudades.
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um gesto soberano
seguramente
acende o luar a seus dias e "o sol nas noites".
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por tudo isto
serena e incontornavelmente
a meio do trabalho
e obrigações
em pleno movimento para férias
na borda de uma mesa de café
numa estação de autocarro do sul
à beira do mar de norte
no pleno oceano raso alentejano
ao saborear as botas entre cores de outono
ao espreguiçar os braços pelo estio
nas poças de água, fartura de chuvas,
avisos de melros no atrás da casa
um gesto soberano lhe perturba
a prosa
do quotidiano.
sabe deste gesto desde menininha
quando os cravos comoveram o mundo inteiro
e ao seu mundo de carinhos
como salazarento
soube desse gesto:
provou o verso que saía
aos borbotões
provou a aurora
o ser posta à prova pela Poesia.
do mesmo gesto passaria
desde então
a merecer a atenção de volúpias
o chamamento
e, nos outros, a inquietação
(gestos parcos ou luminosos ou baços).
do mesmo gesto viveria, desde então, pendente.
livremente pendente, encantada.
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levantam-se as horas
à chegada desse gesto.
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a cadência audaz
vem habitar os centrais interstícios
sem memorandum
sem conselho funcionário
empertigado
na prosa rasante da morte.
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também quarenta e tantos anos.
portuguesa.
mulher do vento sul.
serena e incontornavelmente:
buscadora da fala poética.
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maria toscano.
Porto, 4 e 5 Maio / 2008
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2 comentários:
fabulosa «fala poética», em que muitos se reconhecerão (não direi necessariamente na idade ou hábitos de fumo) na nacionalidade e na memória dos gestos impostantes, dos gestos de esperança.
beijo.
! silêncio Grato! um beijinho. mt
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